Crise de arbitragem marca início turbulento do Brasileirão 2025

A nova Comissão de Arbitragem da CBF, anunciada em fevereiro, enfrentou sua primeira crise. Comandada por Rodrigo Martins Cintra, ex-árbitro paulista, a equipe também inclui nomes experientes como Luiz Flávio de Oliveira, Marcelo Van Gasse, Fabrício Vilarinho, Luis Carlos Câmara Bezerra, Eveliny Almeida e Emerson Filipino Coelho.
Mesmo com o suporte técnico do Comitê Consultivo de Especialistas Internacionais (CCEI) — que tem no quadro o argentino Néstor Pitana (que apitou a final da Copa de 2018), o italiano Nicola Rizzoli (Apitou a final da Copa de 2014 e leito melhor árbitro do mundo pela IFFHS em 2014 e 2015) e o brasileiro Sandro Meira Ricci ( com participação nas copas de 2014 e 2018)—, a atuação dos árbitros nas duas primeiras rodadas gerou grande insatisfação.
Segundo a própria CBF, os confrontos Internacional x Cruzeiro e Sport x Palmeiras tiveram erros claros de arbitragem. Como resposta, foram afastadas tanto as equipes de campo quanto as responsáveis pelo VAR.
“Infelizmente, há momentos em que é preciso instruir, coibir e também afastar”, declarou Cintra. “Esses árbitros estão sendo retirados não como punição, mas para que possam ser reorientados.”
No jogo do Beira-Rio, o Cruzeiro teve um jogador expulso logo aos 20 minutos do primeiro tempo. A falta de Jonathan Jesus em Wesley, que originou o cartão vermelho, foi considerada inexistente por unanimidade entre os ex-árbitros que atuam hoje como comentaristas, além de criticada pelo próprio comitê técnico da CBF. Com um a mais em campo, o Internacional venceu por 3 a 0.
A decisão foi validada no VAR pela árbitra Daiane Muniz, que disse: “Marcelo, cartão vermelho muito bem aplicado”, dirigindo-se ao árbitro Marcelo de Lima Henrique.
No Recife, outro lance decisivo aconteceu nos acréscimos. O juiz Bruno Arleu de Araújo, com auxílio do VAR Rodrigo Nunes de Sá, marcou um pênalti contestado a favor do Palmeiras após disputa entre Raphael Veiga e Matheus Alexandre. O próprio ex-goleiro Marcos, ídolo palmeirense, se posicionou contra a marcação: “Eu prefiro perder do que ganhar com um pênalti desses. É constrangedor.”
O meia Lucas Lima, do Sport, desabafou após a derrota por 2 a 1: “O árbitro estragou o jogo. Decidiu para eles.”
Outro a criticar a arbitragem foi o atacante Gabigol, do Cruzeiro, fazendo referência a uma polêmica diferente: a proibição da jogada em que um jogador sobe com os dois pés sobre a bola. “Enquanto isso, a preocupação é subir na bola”, ironizou.
A provocação se referia a um ofício recente da CBF que passou a punir com cartão amarelo esse tipo de comportamento, considerado provocativo. O documento foi assinado por Rodrigo Cintra e cita que a prática “prejudica sobremaneira a imagem do esporte”.
A discussão ganhou mais fôlego após o clássico entre Corinthians e Palmeiras, pelo Paulistão, quando Memphis Depay usou esse recurso para prender a bola. No último sábado, o atacante voltou a ser tema de polêmica: levou uma entrada dura de Lucas Piton durante a vitória do Corinthians por 3 a 0 sobre o Vasco.
Mesmo com o tornozelo visivelmente inchado, o árbitro Anderson Daronco não marcou falta, e o VAR Rodrigo D’Alonso Ferreira não recomendou revisão. Depay ficou fora da viagem à Colômbia para o jogo contra o América de Cali, pela Sul-Americana.
“O VAR viu tudo”, escreveu o jogador nas redes, com ironia. “Era falta para cartão vermelho, mas eles preferem fazer regra para não subir na bola. Futebol se joga com a mente também.”
Posicionamento da CBF
Diante da pressão crescente, a CBF anunciou um treinamento emergencial para os árbitros, marcado para a próxima segunda-feira (14/04/2025), no Centro de Excelência da Arbitragem Brasileira (CEAB), no Rio de Janeiro. A iniciativa inclui práticas no campo do Clube da Aeronáutica e visa corrigir falhas recorrentes.
O coordenador-geral do CEAB, Alício Pena Júnior, afirmou que o treinamento é parte de um “projeto-piloto” que busca antecipar a profissionalização da arbitragem no país.
“Como ex-árbitro, sei que o trabalho no campo é fundamental. Vamos treinar técnica de corrida, posicionamento, ângulo de visão. Isso pode fazer a diferença na hora de decidir corretamente.”
O esforço da confederação tenta conter uma crise que estourou poucos dias depois da reportagem da revista Piauí, que revelou cortes de verba no setor de arbitragem enquanto o presidente Ednaldo Rodrigues mantém uma rotina de gastos elevados. Um projeto de R$ 60 milhões para um centro nacional de treinamento de árbitros, por exemplo, foi engavetado, apesar da entidade arrecadar mais de R$ 1 bilhão por ano.
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