Na época, um discurso emocionado dela na tribuna da Casa de Leis viralizou e ganhou destaque nacional. Ela defendia investimentos na educação, respeito aos estudantes, e protestava por um colega que morreu dentro de uma escola ocupada.
Em outubro de 2016, as ocupações no Paraná atingiram cerca de 850 escolas, 14 universidades e três núcleos por meio do grupo Ocupa Paraná. As manifestações eram contra uma medida provisória que previa alterações no currículo do ensino médio, e uma PEC que delimitou um teto para os gastos públicos, inclusive na educação.
Parlamentares acompanhavam o discurso de Ana Júlia em silêncio, enquanto ela falava das preocupações dos jovens com o futuro. Houve embate, entretanto, quando a então estudante do ensino médio cobrou responsabilidade dos deputados sobre a morte de Lucas Mota, 16 anos, assassinado a facadas em uma ocupação.
Ao dizer que as mãos dos deputados "estavam sujas de sangue", ela foi aplaudida por participantes que acompanhavam a sessão, mas repreendida por parlamentares e pelo presidente da Alep, deputado Ademar Traiano (PSD), que cobrou respeito. Ela se desculpou logo após, mas fez tréplica:
"Eu peço desculpas, mas o ECA [Estatuto da Criança e do Adolescente] nos diz que a responsabilidade pelos nossos adolescentes, nossos estudantes é da sociedade, da família e do estado [...] Nós estudantes não somos vagabundos como dizem aqui, como a sociedade lá fora diz".
Mais jovem da Alep
Hoje com 22 anos, Ana Júlia é a deputada estadual mais jovem eleita para a Alep, segundo informações da Casa de Leis.
"Eu vivi outras coisas, tive inúmeras outras experiências [...] Eu construí política estudantil, universitária, no terceiro setor, exerci mandato, concorri a duas eleições... por óbvio que isso tudo nos muda. Mas o que permanece igual é o mais importante: eu faço política porque eu acredito nela. Porque acredito que ela é instrumento para mudar as nossas vidas".
Antes dela, três parlamentares estavam empatados com o título de mais jovens da Alep: Maria Victória, Evandro Júnior e Boca Aberta Júnior, todos eleitos com 23 anos.
Segundo Ana Júlia, por ser jovem, ela enfrentou resistência em alguns ambientes, incluindo a própria Câmara. Mas acredita que a "pouca idade" é um diferencial bom para o debate democrático.
"Eu já enfrentei resistência por ser jovem, ouvi pessoas me chamando de vereadora estagiária, aprendiz... E por mais que isso tenha sido falado algumas vezes de forma amigável, inconscientemente isso cria uma imagem de que a pessoa não é capacitada o suficiente, ou não teria condições de estar fazendo articulações [...] Mas acredito que mostrei e provei que não era bem por aí... Tive um bom diálogo", disse Ana Júlia.
A atual vereadora é a parlamentar mais jovem da Câmara de Curitiba.
Ana Júlia assumiu o mandato em julho, após a cassação de Renato Freitas. Na ocasião, a jovem destacou que não assumia o mandato nas circunstâncias que gostaria, mas que respeitava "o jogo democrático".
Em setembro, o ministro Luís Roberto Barroso determinou o restabelecimento do mandato de Renato Freitas, anulando a resolução que decretou a cassação.
Até a publicação desta reportagem, entretanto, a Câmara ainda não tinha devolvido o mandato e Ana Júlia permanecia ocupando uma cadeira na Casa.