Cidades do ES disputam usinas de hidrogênio e 'ferro verde' da Vale
Saiba em que regiões do Estado a mineradora pode instalar novos projetos, com menor emissão de gases poluentesA Vale fechou acordo na semana passada com uma startup sueca para o desenvolvimento de complexos industriais para fabricar produtos siderúrgicos de baixo carbono, que têm menor impacto no meio ambiente, como o hidrogênio verde e o HBI (Hot Briquetted Iron), conhecido em português como “ferro verde”.
A parceria da mineradora com a produtora de aço verde H2 Green Steel prevê a implantação de duas plantas industriais. Apesar de nem o número de hubs nem no local ainda terem sido definidos pela mineradora, o Espírito Santo sai na frente como destino provável para abrigar o novo projeto.
Além de Tubarão, em Vitória, a Vale também tem área em Anchieta, próximo à Samarco, com potencial para receber as usinas, segundo o empresariado capixaba. As duas regiões têm chance de abrigar as novas fábricas por contarem com infraestrutura com acesso a porto e ferrovia (no caso de Anchieta, com o futuro ramal da EF-118). De acordo com o jornal Valor Econômico, estimativas indicam que unidades poderiam demandar investimento de, no mínimo, US$ 1,7 bilhão (o equivalente hoje a R$ 8,5 bilhões).
O que é HBI?
O HBI é uma redução do minério que se transforma em um elemento de qualidade superior ao ferro-gusa em um processo que envolve a redução direta do minério de ferro em ferro metálico, geralmente usando gás natural ou gás de reforma como agente redutor. É um processo posterior à pelotização e anterior à siderurgia e também mais valorizado que a pelota.
A produção de HBI com utilização de gás natural, como o previsto no projeto dos mega hubs, permitirá emitir aproximadamente 60% a menos de carbono, quando comparado com fornos tradicionais siderúrgicos, que usam coque e carvão. No futuro, a substituição de gás natural por hidrogênio e a utilização de energia renovável poderão eliminar as emissões de CO2.
A ideia é que o HBI seja produzido a partir do briquete verde, aglomerado de minério desenvolvido pela Vale em Minas Gerais há 20 anos e que será produzido nas usinas 1 e 2 do complexo de Tubarão, as mais antigas da planta industrial. A primeira delas já vai começar a funcionar em 2023 e a próxima entrará em operação em 2024.
Com esse acordo, a Vale estabelece uma parceria no Brasil com um produtor de ferro e aço verdes que está na vanguarda da descarbonização global, enquanto fomenta a indústria de baixo carbono e estimula a cadeia do hidrogênio verde no país.
"Com essa parceria, a Vale dá seus primeiros passos no mercado de hidrogênio verde. A iniciativa reforça o papel da Vale como indutora da ’neoindustrialização’ do Brasil, que será baseada na indústria de baixa emissão de carbono, cumprindo sua vocação de âncora do desenvolvimento regional, como sempre fez ao longo de sua história", afirma o presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo.
ES tem características para receber negócio
Para a presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Cris Samorini, o Estado tem as características fundamentais para a instalação de novos negócios. Entre elas, disponibilidade de matéria-prima, acessos ferroviários, portos, estabilidade econômica, incentivos públicos, entre outros pontos fortes.
"As vantagens da implantação das fábricas de HBI e hidrogênio verde para o Estado estão associadas ao desenvolvimento da tecnologia inovadora dessas plantas no Espírito Santo e também na geração de empregos diretos e indiretos e nas oportunidades de negócios", afirma.
Ela destacou que o Estado possui alguns municípios com potencial para a implantação das fábricas de HBI e de hidrogênio verde, entre eles Vitória e Anchieta. "A decisão pelo Espírito Santo ficará por conta da estratégia que a Vale vai adotar", destaca.
Durval Vieira de Freitas, CEO da DVF Consultoria, cita que, além da área da Vale em Tubarão, a mineradora tem potencial de instalar as plantas ao lado da Samarco, próximo ao Porto de Ubu, que também vai receber ramal da EF-118. Ele afirma que, se a produção de briquete verde der resultado, a tendência é que as outras usinas da mineradora sejam transformadas também para fazer esse tipo de produto.
Sobre a estrutura de hidrogênio verde, Durval acredita que será projeto de médio prazo, cerca de 10 anos. O hidrogênio verde é produzido a partir de fontes de energia renovável, como eletrólise da água utilizando energia solar ou eólica, sendo mais sustentável e com zero emissões de gases poluentes.
"Esse é um ganho imenso para o Espírito Santo. A Vale está investindo no Estado e no futuro, caso vendam a tecnologia, isso será bom para os fornecedores e as empresas capixabas. Todos nós ganhamos com isso", destaca.
Plano de descarbonização
Segundo a Vale, a empresa estabeleceu a meta de reduzir suas emissões líquidas de carbono de escopo 1 e 2 (diretas e indiretas) em 33% até 2030, com o objetivo de zerá-las até 2050. Em 2021 a empresa anunciou investimentos de US$ 4 bilhões a US$ 6 bilhões para atingir essa meta.
Para reduzir as emissões diretas, a Vale vem estudando a adoção de combustíveis alternativos para suas ferrovias, como a amônia verde – produzida a partir do hidrogênio –, e para seus caminhões, como o etanol. A empresa também utiliza a eletrificação para equipamentos de menor porte. Para descarbonizar a produção nos fornos de pelotização, a Vale vem fazendo testes com o uso de biocarbono no lugar do carvão mineral.
A mineradora estabeleceu a meta de atingir 100% do consumo de eletricidade por fontes renováveis nas operações do Brasil até 2025 e globalmente até 2030. Em julho, foi anunciado o alcance da capacidade máxima do complexo solar Sol do Cerrado, inaugurado em 2022 em Jaíba (MG), um investimento de R$ 3 bilhões que fornecerá 16% de toda a energia consumida pela empresa no Brasil.
Portal SBN