Polêmica na Alemanha: Merz e o tabu da cooperação com a extrema direita da AfD
Friedrich Merz, líder da União Democrata-Cristã (CDU) e favorito nas eleições alemãs, afirmou nesta sexta-feira (24) que está disposto a avançar com um pacote para endurecer as leis de imigração, mesmo que dependa de votos da extrema direita, representada pela Alternativa para Alemanha (AfD). A declaração alimenta debates sobre a possível quebra do isolamento político da sigla populista no Parlamento, prática mantida desde sua fundação em 2013.
"Eu não olho para esquerda ou para direita. Olho apenas para nossas questões", afirmou Merz, negando alinhamento com a AfD, que enfrenta acusações de discurso de ódio e posições inconstitucionais. No entanto, líderes políticos e analistas apontam que a movimentação pode representar um rompimento com o chamado "Brandmauer" (muro de proteção), barreira que impede cooperação com a extrema direita.
Repercussão e contexto político
A diretora parlamentar do SPD, Katja Mast, criticou duramente Merz. "Se ele fizer isso, será o fim do firewall. É um salvo-conduto para a cooperação com a AfD", disse. A CDU, por sua vez, refuta qualquer aliança formal com o partido extremista, mas admite que o apoio da AfD pode ser decisivo para aprovar medidas legislativas.
A AfD, que atualmente disputa a segunda posição nas pesquisas com 20%, mantém uma retórica contrária à imigração e é classificada pelos serviços de segurança como uma ameaça à ordem constitucional. Nesta semana, um tribunal confirmou essa designação após recurso da sigla na Saxônia, evidenciando o posicionamento radical da legenda.
Impacto eleitoral e polarização
O debate ganhou força após um ataque em um parque na Baviera na quarta-feira (22), no qual um afegão matou duas pessoas e feriu outras três. O incidente reacendeu a discussão sobre políticas de imigração, tema sensível no cenário eleitoral.
Alice Weidel, líder da AfD, propôs formalmente uma parceria com a CDU para endurecer as leis de proteção a refugiados, mas Merz rejeitou a proposta antes de reconhecer que a aprovação de seu pacote pode depender do apoio indireto da sigla extremista.
Críticos acusam o líder conservador de usar retórica anti-imigração para atrair eleitores da AfD, em um movimento que parte da mídia descreve como uma tentativa de emular a estratégia populista de Donald Trump. A propaganda de Merz foca em temas de "lei e ordem", reforçando sua posição contra a imigração desordenada.
Risco de precedentes internacionais
A movimentação alemã ecoa na Áustria, onde o Partido da Liberdade (FPO), de extrema direita, integrou um governo de coalizão após ser marginalizado politicamente por décadas. A experiência austríaca levanta temores de um "efeito Orloff" na Alemanha, com a eventual normalização da cooperação com a AfD.
Com eleições marcadas para 23 de fevereiro, a CDU lidera com 30% das intenções de voto, enquanto SPD e AfD disputam o segundo lugar. Observadores apontam que o resultado das urnas pode determinar não apenas o futuro da Alemanha, mas também o caminho da extrema direita na política europeia.