Novo governo do Brasil enfrentará cenário global hostil em 2023

Portal SBN
Quarta, 20 de outubro de 2021, 16:15:21

Novo governo do Brasil enfrentará cenário global hostil em 2023

Recessão, crise energética na Europa, Guerra da Ucrânia, desaceleração na China são alguns dos entraves que deverão ser enfrentados
Política - Eleições 2022

O candidato que sair vitorioso das urnas no próximo dia 30 vai governar o Brasil com um cenário hostil na economia global. Alguns países ricos estarão em recessão, os Estados Unidos deixarão seus juros altos por muito tempo, a crise energética na Europa poderá levar a uma desindustrialização do continente e a China, principal parceiro comercial do Brasil, estará crescendo ao menor ritmo desde os anos 1990.

O impacto da guerra na Ucrânia—que eclodiu quando a economia global iniciava uma recuperação pós-pandemia — terá efeitos para além de 2023. O conflito trouxe uma inesperada incerteza geopolítica para a economia, além de elevar o preço do petróleo e pressionar a inflação nos países ricos, levando os Estados Unidos a subirem sua taxa de juros ao maior patamar em 14 anos, com aperto no crédito global.

Na China, a política do governo de Covid zero, que levou o país a adotar vários lockdowns em grandes metrópoles, derrubou a atividade econômica. O colapso do mercado imobiliário local, com grandes incorporadoras em dificuldades financeiras, acentuou a crise.

O país deve crescer só 3,2% este ano e 4,7% em 2023, segundo projeções da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), bem abaixo do ritmo acima de 6% anuais de antes da Covid.

—Temos os bancos centrais americano e europeu subindo juros, com economias já desacelerando, o conflito entre Rússia e Ucrânia, que traz incertezas, e a China, com uma retomada econômica que têm se mostrado mais dura. Isso nos afeta pelos canais de comércio exterior e traz incertezas que atrapalham emergentes e pressionam o câmbio —disse o economista do Santander, Tomás Urani.

A China é o principal parceiro comercial do Brasil, destino de mais de 30% de nossas exportações. Na terça-feira passada, o governo reduziu sua previsão de saldo comercial para este ano de US$ 81,5 bilhões para US$ 55,4 bilhões.

A economista-chefe para Ásia-Pacífico da consultoria Natixis, Alicia Garcia Herrero, diz que as restrição devem continuar afetando o crescimento chinês até o fim do primeiro semestre de 2023:

— Nós temos dois cenários. Um deles é com maior abertura em março, pelo qual a China pode crescer 5%. Mas esse cenário não é muito provável, então, deve ser algo em torno de 4%. Se tivermos uma recessão global, mesmo com a China crescendo 4%, ela continuará a sustentar a economia global, mas não como visto antes.

O fiel da balança para uma recessão global será o comportamento do PIB americano. Ao elevar os juros do país pela quinta vez consecutiva em setembro, para conter a inflação, o Federal Reserve, o banco central americano, reduziu a projeção de crescimento dos EUA para 1,2%, ante estimativa anterior de 1,7%, em junho.

Além de cortar as previsões, o Fed deixou de lado a defesa de um “pouso suave” na economia, pelo qual poderia ocorrer uma desaceleração da atividade, mas sem necessariamente uma recessão.

Como destaca a economista do Bradesco, Myria Bast, o cenário de “pouso suave” é bastante improvável, levando em conta o mercado de trabalho americano ainda aquecido e a inflação de serviços elevada:

— Achamos improvável ter o pouso suave e isso ser suficiente para combater a inflação. Prevemos recessão (nos EUA) no ano que vem, com crescimento global abaixo dos 3%.

Na Europa, alguns países dificilmente conseguirão escapar da recessão, preveem os analistas. A Alemanha, mais dependente do gás russo, deverá ter PIB negativo de 0,7% em 2023, prevê a OCDE.

A disparada no custo da energia levou os países da União Europeia a adotarem em conjunto um plano para racionar o consumo no inverno, e várias fábricas europeias estão reduzindo produção com a escassez e os altos preços do gás.

Para o professor do Instituto de Economia da UFRJ, Luiz Carlos Prado, o cenário econômico mais desafiador vai exigir maior equilíbrio e habilidade do novo governo para aproveitar as oportunidades que surgirem.

Oportunidades

Prado defende que além de procurar novos mercados, o país melhore suas relações com parceiros tradicionais.

— A capacidade que o Brasil teve de historicamente negociar com todos os players deve ser reconstruída.

Dentre as pontes que precisarão ser refeitas estão as ligadas ao ambiente, diz Prado:

— A agenda ambiental não é só um ônus, ela é um potencial de expansão da economia e desenvolvimento de negócios. O Brasil tem um potencial de geração de energias alternativas muito importante e pode desenvolver novas tecnologias, com o uso do hidrogênio .

Para o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato, é quase impossível que o mundo não entre em recessão em 2023 e a expectativa maior é como esse cenário vai se desenrolar na Europa.

— A grande incógnita é a Europa, com problemas em empresas financeiras, crise do gás e a guerra na Ucrânia . Não sabemos o desfecho dessas questões. Isso pode produzir manifestações sociais, pode haver uma crise de dívida soberana, com fragmentação. E pode produzir eventos de liquidez em bancos globais e fundos, como vimos no Reino Unido.

Honorato lembrou que EUA e China estão num ciclo de desaceleração “regular”:

Últimas da Bahia

Veja Mais +