Após 40 anos, mãe reencontra filha roubada quando bebê

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Quarta, 20 de outubro de 2021, 16:15:21

Após 40 anos, mãe reencontra filha roubada quando bebê

Após 40 anos, mãe reencontra filha roubada quando bebê
Espírito Santo - 'novela Com Final Feliz'

Beijos, abraços e muito demonstração de afeto. É assim que Maria das Dores Estevão, 65 anos, e Sandra Maria dos Santos, de 44 anos, mãe e filha respectivamente, ficaram após um reencontro depois de mais de 40 anos sem nenhum contato. Com menos de dois anos de idade, Sandra foi levada sem o consentimento da mãe por um casal que morava em São Paulo. O destino só reuniu as duas novamente em São Mateus, no Norte do Espírito Santo. No primeiro Dia Internacional da Mulher após o reencontro, o g1 conversou com elas.

As vidas de mãe e filha se separaram no dia 18 de março de 1980. De acordo com Maria das Dores, foi nesta data que a criança foi levada sem consentimento por um casal.

“Neste dia estava chovendo, e tinha uma senhora que cuidava de Sandra. Fazia muito frio e ela disse assim ‘não leva a neném agora, deixa aí que depois eu levo’. Quando eu saí pra trabalhar, e procurei meu dinheiro, estava só a carteira vazia. Quando eu cheguei em casa, de volta do trabalho, não tinha nada. Eles tinham levado o registro de nascimento dela, o dinheiro do primeiro mês que eu tinha trabalhado e até as minhas roupas íntimas. Me deixaram sem nada”, disse.

Segundo a mãe, no mesmo dia ela foi à delegacia da região e fez um boletim de ocorrência, mas não conseguiu encontrar Sandra.

“Sempre que mudavam o escrivão e o investigador, eu ia à delegacia novamente e fazia um novo depoimento, mas não achavam nada. Até que um dia eu fui de novo e me disseram que a minha filha estava em Diamantino, no Mato Grosso. O delegado fez uma carta precatória e eu viajei para lá. Entreguei a carta, o outro delegado leu e fomos procurar Gilson, Aurora e minha filha”, disse.

Segundo Maria das Dores, a viagem até Mato Grosso durou cinco dias e que o então delegado da cidade descobriu que o casal que levou Sandra da mãe havia alterado informações no registro de nascimento da menina.

“Ela continuava com o mesmo nome, mas mudaram o sobrenome. A data de nascimento dela é 30 de dezembro de 1978 e eles colocaram 13 de dezembro de 1978. Na época, procuramos tudo em Dimantino e não achamos eles. Disseram pra gente que eles estavam na cidade de Nobres e nós fomos também. Depois fomos em Nova Mutum e não achamos também. Eu tive que voltar”, contou a mãe.

De lá pra cá, segundo Maria das Graças, ela procurou a filha de todas as formas possíveis, dando entrevistas em veículos de comunicação, pedindo ajuda as pessoas, mas nunca encontrou Sandra.

O g1 entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo sobre a ocorrência do desaparecimento de Sandra Maria, mas a informação que obteve foi de que os documentos não poderiam ser localizados devido o fato ter acontecido há muitos anos.

A vida de Sandra

De acordo com Sandra, Gilson morreu quando ela tinha cinco anos de idade.

“Eu era pequena e as minha lembranças não são boas. Eles eram muito doidos. Ele me batia muito, batia na minha mãe Aurora. Quando Gilson morreu, fiquei só com ela, que judiava muito de mim. Lembro que Aurora queria que eu engravidasse do marido que ela tinha e eu era só uma criança”, disse.
Sandra disse que soube que era adotada pela própria Aurora, que um dia falou sobre o assunto.

“Ela chegou em mim uma vez e disse ‘não sou sua mãe verdadeira’. Eu contestei e disse ‘é sim, para com isso’. E ela continuou dizendo que precisava me contar a história verdadeira e que um dia encontrou a minha mãe chorando, que não tinha condições de cuidar de mim e me entregou para eles”.

“Eu era criança, não perguntei mais sobre aquilo, mas nunca esqueci. Quando eu tinha nove anos, Aurora morreu. Eu não tinha como eu saber de nada, mas fez sentido na minha cabeça porque eles judiavam de mim”, disse Sandra.

Sem saber o nome da mãe, Sandra contou que seguiu a vida e ainda foi adotada por duas outras mulheres. A última delas a levou de volta para São Paulo.

Aos 16 anos, Sandra conheceu um rapaz, com quem se casou e teve um filho. A família foi morar na Bahia e, em seguida, mudou-se para o Espírito Santo.

“Eu nunca imaginava na vida que ia encontrar a minha mãe porque eu não sabia nome, eu não sabia nada dela”, disse Sandra.

Carta

Sensibilizada com a história de Maria das Dores, uma amiga se dispôs a ajudar a mãe em busca da filha e uma terceira pessoa encontrou os dados de Sandra na internet com um possível endereço no Espírito Santo.

“Eu tinha feito uma cirurgia nos olhos, mas disse pra minha amiga que queria escrever uma carta. Eu ditei e ela escreveu pra mim. Se a carta chegasse até ela, eu ia poder realizar o sonho de reencontrá-la”, disse Maria.
Carta de mãe para filha, que estava no ES

Para a reportagem do g1, Sandra disse que a carta foi recebida no dia 20 de dezembro de 2022 em um endereço antigo em que ela morava.

“Minha amiga disse ‘Sandra, chegou uma carta para você de São Paulo’ e eu disse que devia ser cobrança, porque não tinha ninguém em São Paulo. Até falei para ela jogar fora, mas minha amiga disse ‘e se for a sua mãe?’ Fiquei com aquilo na cabeça e falei pra ela ‘então abre e me fala se é”, disse.
Sandra disse que na noite do mesmo dia a amiga dela ligou chorando dizendo que realmente era uma carta da mãe da diarista.

“Eu comecei a tremer. Fiquei sem saber o que fazia. Na carta, ela tinha deixando um WhatsApp e mandei uma mensagem. Ela demorou a responder. Depois mandei a foto da carta e ela respondeu. Nós começamos a conversar e eu vi que a história batia com a minha. Eram o Gilson e a Aurora que tinha como pai, eu morei muito tempo em Mato Grosso também, onde ela disse que foi me procurar”, disse Sandra.

Reencontro

Ainda se recuperando da cirurgia nos olhos, Maria das Dores disse que não aguentava mais esperar para reencontrar Sandra pessoalmente.

“Eu ia ficar doente se não encontrasse ela, mas eu não tenho mais condições de andar sozinha porque eu não enxergo muito bem, perdi parte da visão por causa do glaucoma. Meu filho mais novo viu minha angústia e perguntou se eu queria que ele viajasse comigo e decidimos ir”, disse.

O reencontro ocorreu na rodoviária de São Mateus no dia 3 de março deste ano.

“Eu estava ansiosa. Durante a viagem, fomos falando onde a gente estava. Nós chegamos primeiro do que ela na rodoviária e ela chegou rapidinho depois. Eu queria correr pra abraçar ela, mas não podia porque, devido ao problema nos olhos, eu podia cair. Então eu abri os braços e ela que veio correndo de braços abertos também. Nós choramos muito. Foi o momento mais feliz da minha vida”, disse.

A filha, por sua vez, também disse a emoção que sentiu ao reencontrar a mãe.

“Eu achei que não fosse chorar, mas quando vi ela, desmoronei a chorar. Eu encontrei a minha mãe, que me procurou a vida toda dela sem eu saber”, disse.

Exame de DNA

Com a certeza de que são mãe e filha, Maria das Dores e Sandra Maria disseram que estão providenciando a documentação necessária para que uma advogada faça o requerimento judicial de uma exame de DNA, comprovando oficialmente que foram separadas.

“Se ela quiser, eu quero que ela tenha meu sobrenome, tenha a data de nascimento realmente no dia que ela nasceu. Para mim, a maior felicidade do mundo é ter encontrado a minha única filha mulher. Parece história de novela que tem o final feliz”, disse.

Sandra, por sua vez, disse percebe semelhanças físicas com a mãe.

“Eu pareço muito com ela. Vamos fazer o exame de DNA para provar o que já sabemos… Quero que ela venha sempre a minha casa, e quero visitá-la também”, disse.

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