Viúva e pai de santo são presos suspeitos de matar motorista de app por seguro de vida
Antes de o corpo do pai aparecer, filha encontrou acusados juntos esperando um lanche na casa da vítima. Crime teria sido motivado por seguros de vida de R$ 600 mil
Após a prisão preventiva de Marcos Filipe Santana de Oliveira e Andreia Ramos Cortes, viúva do motorista de aplicativo Alberto de Oliveira Gomes, por homicídio qualificado e ocultação de cadáver pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC ), os filhos de Alberto estiveram na porta da unidade e contaram como foram os contatos com a madrasta. A dupla foi presa na quarta-feira acusada de praticar o crime para receber dois seguros de vida que totalizam R$ 600 mil. O corpo da vítima foi localizado com uma das mãos amputadas em uma área de mata fechada, no Alto da Boa Vista. Antes de o corpo do pai aparecer, a filha do motorista conta que encontrou com Andreia e Marcos Filipe juntos na casa de seu pai.

— Meu pai desapareceu numa segunda, aí na quinta-feira eu estive na casa dele. Chegando lá, estavam ela (Andreia) e o bonito (Marcos Filipe) deitados na cama do meu pai. Conversamos, até que chega uma moto de entregador de comida. Eu fiquei três dias sem comer, aí ela pedindo lanche? — perguntou, indignada, Bruna Pereira Gomes, umas das filhas de Alberto.
Alberto tinha quatro filhos. Marcos Vinícius e Alexandre de Azevedo Gomes, de um primeiro relacionamento, e Bruna e Alberto de Oliveira Gomes Júnior, de outro.
Logo após a morte da mãe de Bruna e Júnior , em janeiro de 2019, Alberto começou a se relacionar com Andréia e a relação dos filhos com ela não era próxima, um dos filhos, inclusive, disse que só a viu duas vezes.
— Uma das vezes foi na festa de aniversário do meu pai, por isso todo mundo achava que estava tudo bem com ele — explicou Marcos Vinicius.
Não queria que descobrissem o seguroOs filhos explicam que Andréia estava fazendo uma vaquinha para conseguir pagar o enterro de Alberto.
— Ela não queria dar dinheiro nenhum para enterrar meu pai para não acionar o seguro e, assim, ninguém descobrir que tinha um seguro e que ela era única beneficiaria — explicou Bruna.
— Na cabeça dela, nós não sabíamos do seguro. Mas eu morei com meu pai a vida toda, então ele sempre me passou as senhas dele. Quando aconteceu isso, entrei na conta, coloquei a senha e entrou. Vimos tudo — diz Júnior, que se deparou com um valor de R$1.300 na conta conjunta de Andreia e o pai, além de ter descoberto os seguros que totalizavam R$600 mil. Eles especulam o porquê de ela não ter pago o enterro.
Na representação pela prisão temporária, assinada pelo delegado Alexandre Herdy, titular da DHC, é narrado que o inquérito foi instaurado para apurar as circunstâncias da morte de Alberto, cujo cadáver foi encontrado em adiantado estado de decomposição, por volta de 14h30 do dia 4 de outubro. O corpo estava no interior da mata, com acesso pela Estrada Dona Castorina, e o fato foi comunicado à delegacia por policiais militares do 6° BPM (Tijuca).
Na ocasião, Andreia foi encaminhada para prestar depoimento e relatou ser companheira de Alberto há aproximadamente quatro anos, residindo com ele em uma casa no Centro de Mesquita, na Baixada Fluminense. Ela contou que, por volta de 13h do dia 26 de setembro, os dois foram até um shopping em Nova Iguaçu, na mesma região, para comprar o enxoval do filho que pretendiam adotar. Em seguida, o motorista foi trabalhar, e ela não conseguiu mais contatá-lo.
No dia seguinte, sem notícias de Alberto, Andreia disse ter ido à 53ª DP (Mesquita), onde registrou seu desaparecimento, e passou a divulgar o caso nas redes sociais. No dia 30, a mulher afirmou ter recebido, por meio de um grupo de WhatsApp, fotos de PMs recuperando o veículo do companheiro, no Alto. Quatro dias depois, ela contou ter ido até o mesmo local com um homem, achado o corpo e acionado então o Corpo de Bombeiros. A viúva ainda garantiu que ele era uma pessoa boa, trabalhadora e não possuía inimigos, não sabendo informar quem podia tê-lo matado.
Depoimentos prestados pelos filhos da vítima, no entanto, dão conta de que o casal mantinha um relacionamento conturbado, agressivo e marcado por ofensas mútuas. Para um deles, Andreia teria ligado para contar do desaparecimento do motorista. Ao chegar na residência do pai, Alberto Júnior disse a ter encontrado com o pai de santo Marcos Filipe. O rapaz afirmou ainda que Alberto possuía duas apólices de seguro de R$ 300 mil cada, nas quais a mulher figurava como única beneficiária.