Risco para Alzheimer aumenta em 69% entre idosos que tiveram Covid, mostra novo estudo
Análise de mais de seis milhões de pessoas acima de 65 anos comprovou relação entre o coronavírus e o aumento nos diagnósticos para a demência; risco chega a ser 89% maior para os com 85 anos ou maisUma série de estudos buscam entender os impactos a longo prazo da Covid-19, que em quase três anos de pandemia provocou mais de 600 milhões de infecções pelo mundo. Um deles, de pesquisadores da Universidade Case Western Reserve, nos Estados Unidos, decidiu avaliar a incidência da doença de Alzheimer em um grupo de idosos contaminado pelo novo coronavírus, e comparar os números com outro grupo semelhante que não teve contato com o vírus.
Os resultados, publicados ontem na revista científica Journal of Alzheimer's Disease, mostram que a Covid-19 eleva em 69% o risco para a forma de demência entre aqueles acima de 65 anos.
Para traçar esse cenário, os cientistas reuniram informações de diferentes bancos de dados de saúde dos Estados Unidos, contabilizando um total de aproximadamente 6,2 milhões de idosos com registros médicos disponíveis entre fevereiro de 2020 – um mês antes de a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar emergência global de saúde – e maio de 2021. Todos não tinham um diagnóstico prévio para o Alzheimer.
Em seguida, os pesquisadores separaram os participantes em dois grupos: aqueles que não foram contaminados pelo coronavírus, com 5.834.534 pessoas, e os que contraíram a Covid-19, com 410.748 idosos. Eles analisaram, então, a incidência de casos de Alzheimer nas duas situações, e compararam os resultados.
Enquanto, no primeiro, a taxa de idosos diagnosticados com a demência ficou em 0,35%, entre os com histórico de contaminação pelo coronavírus esse percentual foi de 0,68%, quase o dobro no período de até 360 dias após a infecção.
Depois, os cientistas ajustaram os dois grupos para que tivessem um número geral de idosos semelhante em cada um, representando assim de forma mais fiel a realidade. O percentual permaneceu em 0,68% entre os que tiveram Covid, mas foi para 0,47% entre os que não contraíram o vírus. Com isso, os cientistas confirmaram que o risco de Alzheimer para os idosos com mais de 65 anos aumentou em 69% após a infecção pelo coronavírus.
"Os fatores que contribuem para o desenvolvimento da doença de Alzheimer têm sido mal compreendidos, mas duas peças consideradas importantes são infecções anteriores, especialmente virais e inflamação. Como a infecção pelo SARS-CoV-2 (vírus causador da Covid-19) foi associada a anormalidades do sistema nervoso central, incluindo inflamação, queríamos testar se, mesmo a curto prazo, a Covid poderia levar a diagnósticos aumentados (de Alzheimer)”, explica a professora da Escola de Medicina da Universidade Case Western Reserve, e autora do estudo, Pamela Davis, em comunicado.
Os responsáveis pelo trabalho avaliaram ainda esse aumento do risco por faixa etária e pelo gênero, e descobriram que o impacto é ainda mais significativo entre mulheres com mais de 85 anos. No geral, o risco foi 59% maior para todos entre 65 e 74 anos; 69% maior entre 75 e 84, e 89% maior para os acima dos 85 anos. Porém, para homens, a média foi de 50%, enquanto para as mulheres essa taxa foi de 82%.
"Se esse aumento de novos diagnósticos da doença de Alzheimer for mantido, a onda de pacientes com uma doença atualmente sem cura será substancial e poderá sobrecarregar ainda mais nossos recursos de cuidados de longo prazo. A doença de Alzheimer é uma doença séria e desafiadora, e pensamos que havíamos virado a maré reduzindo fatores de risco gerais, como hipertensão, doenças cardíacas, obesidade e estilo de vida sedentário. A Covid e as consequências a longo prazo dela ainda estão surgindo. É importante continuar monitorando o impacto desta doença em futuras incapacidades”, alerta Davis.
Os pesquisadores afirmam que o estudo é observacional, e que não é claro ainda se a Covid-19 levaria a um desenvolvimento inédito da doença de Alzheimer ou se aceleraria o seu surgimento. Eles pretendem conduzir mais trabalhos para avaliar a relação, também com outras doenças neurodegenerativas, além de eventuais tratamentos para os impactos a longo prazo da infecção.
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