Neurologista aponta sinais de que o estresse crônico está prejudicando seu cérebro

Portal SBN
Quarta, 20 de outubro de 2021, 16:15:21

Neurologista aponta sinais de que o estresse crônico está prejudicando seu cérebro

Saúde - Estresse Crônico

O Brasil é o quarto país mais estressado do mundo, de acordo com o relatório global World Mental Health Day 2024, divulgado pelo Instituto Ipsos. O dado revela uma preocupação crescente: a pressão do dia a dia não afeta apenas o bem-estar emocional, mas também a saúde do cérebro. E quando chega a sua fase crônica, o estresse muitas vezes subestimado como uma sensação passageira, pode desencadear alterações significativas no funcionamento e na estrutura do cérebro.

“O estresse crônico pode reduzir o volume do hipocampo, que está ligado à memória, afetar o córtex pré-frontal, responsável pela tomada de decisões, e aumentar a atividade da amígdala, relacionada às emoções”, afirma o neurocirurgião João Vitor Lima, membro da SBN (Sociedade Brasileira de Neurocirurgia).

Na prática, isso quer dizer que quem vive sob estresse constante pode começar a perceber mudanças reais no dia a dia. A pessoa pode esquecer compromissos ou nomes com mais facilidade, ter dificuldade de se concentrar e planejar, e acabar agindo de forma mais impulsiva. Além disso, vive sempre em alerta, reagindo com medo ou irritação mesmo em situações normais. Com o tempo, o estresse não fica só na cabeça -- ele muda fisicamente o cérebro, afetando memória, decisões e controle das emoções.

O impacto do estresse no cérebro
 
Segundo o Ministério da Saúde, o estresse é uma "reação natural do organismo que ocorre quando vivenciamos situações de perigo ou ameaça. Esse mecanismo nos coloca em estado de alerta ou alarme, provocando alterações físicas e emocionais. A reação ao estresse é uma atitude biológica necessária para a adaptação às situações novas.

Até então, são dois os tipos de estresse, segundo o órgão federal:

Agudo: é mais intenso e curto, sendo causado normalmente por situações traumáticas, mas passageiras, como a depressão na morte de um parente.

Crônico: afeta a maioria das pessoas, sendo constante no dia a dia, mas de uma forma mais suave.

A primeira vez que o estresse foi entendido como algo que realmente afeta a nossa saúde foi nos anos 1930, com o médico Hans Selye, conhecido depois como o “pai da pesquisa sobre estresse”. Até aquele momento, acreditava-se que sintomas como cansaço, falta de apetite ou vontade de ficar deitado estavam ligados apenas a doenças específicas. Mas Selye percebeu que esses sinais apareciam em praticamente todos os pacientes, mesmo em quem tinha diagnósticos diferentes. Foi aí que ele sugeriu que o corpo tinha uma resposta geral, quase automática, sempre que era colocado sob pressão.

Mais tarde, em seus experimentos, Selye mostrou que diferentes situações estressantes levavam sempre às mesmas mudanças no corpo: aumento das glândulas suprarrenais, enfraquecimento do sistema de defesa e até úlceras no estômago. Com isso, criou o conceito da “Síndrome de Adaptação Geral”, que divide o estresse em três fases: alarme, resistência e exaustão. Em outras palavras, o estresse não é só um estado mental passageiro, mas uma reação física poderosa, que pode até abrir espaço para doenças quando se torna crônico.

No cérebro, o estresse afeta principalmente o hipocampo, que é essencial para a memória e o aprendizado. Altos níveis de cortisol, o hormônio do estresse, podem atrapalhar a memória de lugares, fatos e detalhes.
 
“O estresse prejudica a comunicação entre áreas como o córtex pré-frontal e o hipocampo, afetando funções como memória, controle emocional e tomada de decisões”, explica o neurocirurgião da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia. Significa que o cérebro tem mais dificuldade em integrar informações importantes: o hipocampo, que processa e armazena memórias, não consegue se comunicar de forma eficiente com o córtex pré-frontal, responsável por planejar, tomar decisões e controlar impulsos.

Como resultado, tarefas simples do dia a dia se tornam mais desafiadoras. Além disso, essa falha na conexão pode amplificar respostas emocionais exageradas, tornando a pessoa mais sensível a situações de pressão e menos capaz de reagir de forma racional. "Pode causar dificuldade de concentração, insônia, irritabilidade, ansiedade e dores de cabeça frequentes”, explica João Vitor Lima.

Outro ponto de atenção é o risco aumentado para doenças graves. “Há evidências de que o estresse prolongado pode aumentar o risco de doenças como Alzheimer, por promover inflamação crônica e dano neuronal. No caso do Parkinson, a relação ainda está sendo investigada”, pontua o neurocirurgião.

Sinais de que o estresse pode estar afetando seu cérebro
 
Dificuldade de concentração e lapsos de memória: O estresse pode prejudicar a função do hipocampo, região responsável pela memória, dificultando o foco e a recordação de informações.

Alterações no sono: Insônia, sono fragmentado ou pesadelos frequentes são comuns, devido ao aumento dos níveis de cortisol, hormônio relacionado ao estresse.

Mudanças no apetite: O estresse pode levar a alterações no apetite, como comer em excesso ou perda de apetite, além de hábitos alimentares inadequados.

Mudanças de humor: Sentimentos de ansiedade, irritabilidade e sensação de estar sobrecarregado(a) são comuns em situações de estresse.

Dores de cabeça e tensões musculares: O estresse pode causar dores de cabeça frequentes, além de tensão nos músculos, especialmente no pescoço e ombros.

Dificuldade em tomar decisões e falta de motivação: O estresse pode afetar a capacidade de tomar decisões e reduzir a motivação para realizar tarefas diárias.

Alterações no desejo sexual: A redução do desejo sexual pode ocorrer devido ao estresse crônico, afetando a função sexual e o interesse.
 
De acordo com o neurocirurgião João Vitor Lima, alguns exames podem auxiliar na investigação dos impactos do estresse. “Ressonância magnética funcional e testes neuropsicológicos podem, em determinados casos, ajudar na investigação do problema”.

Apesar dos riscos, há medidas que podem proteger o cérebro contra os efeitos do estresse. “Atividade física regular, sono de qualidade, técnicas de respiração, meditação, alimentação equilibrada e, quando necessário, psicoterapia ou medicação”, recomenda.

Por Redação GQ

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