Fala do presidente é considerada 'desastrosa' no Itamaraty
A decisão de Israel de declarar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como "persona non grata" pegou de surpresa o governo brasileiro.
A primeira avaliação no Palácio do Planalto é de que a reação israelense à fala de Lula no fim de semana foi muito dura.
No Itamaraty, a avalição é de que Israel escalou a crise e fez da convocação do embaixador brasileiro uma "escada" para a declaração do chanceler, Israel Katz.
Na diplomacia brasileira, a ordem é fazer uma avaliação com calma para evitar respostas precipitadas – e não ampliar a crise entre os países.
Apesar do silêncio oficial, integrantes do Ministério das Relações Exteriores avaliaram como "desastrosa" a declaração de Lula comparando a ofensiva militar de Israel na Faixa de Gaza ao Holocausto.
Nas palavras de um graduado diplomata, a fala de Lula tira a legitimidade do presidente até para fazer críticas necessárias a uma reação desproporcional de Israel ao ataque do grupo terrorista islâmico Hamas, em outubro de 2023.
No final da semana, o presidente classificou como "genocídio" e "chacina" a resposta de Israel na Faixa de Gaza aos ataques terroristas promovidos pelo Hamas. Ele comparou a ação israelense ao extermínio de milhões de judeus pelos nazistas chefiados por Adolf Hitler no século passado.
"O que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu: quando o Hitler resolveu matar os judeus", disse Lula.
A declaração, segundo esse membro do Itamaraty, também afeta negativamente a credibilidade de Lula no reiterado discurso em defesa da criação de um Estado Palestino.
O risco do improviso
Dentro do governo, a fala de Lula foi vista com preocupação. Um auxiliar próximo disse ao blog que isso costuma ocorrer quando Lula fala de improviso em relação à política externa.
Na véspera, quando leu um discurso em assembleia da União Africana em Adis Abeba, na Etiópia, a avaliação é de a fala usou um tom correto a respeito do conflito.
Quando concede entrevistas, no entanto, o brasileiro acaba derrapando.
Em ocasiões similares, já relativizou ditaduras em países como Nicarágua e Venezuela e equiparou as posições de Rússia e Ucrânia na invasão territorial em curso na Europa.
Também chamou atenção dos diplomatas, ao longo dos últimos dias, a cautela extrema de Lula sobre a morte de Alexei Navalny, principal opositor do presidente russo Vladimir Putin.
Até o momento, o governo não se manifestou oficialmente sobre esse caso.