Bispo Romualdo Panceiro declara voto em Lula: 'Pastor impor voto é covardia'
Rompido com o bispo Edir Macedo, de quem era considerado o sucessor, ele agora lidera a Igreja das Nações do Reino de DeusAntes considerado o sucessor do fundador Edir Macedo na Igreja Universal do Reino de Deus, o bispo Romualdo Panceiro vai na contramão dos principais líderes evangélicos no Brasil: agora à frente da Igreja das Nações, ele declara voto no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com quem diz estar “desde o primeiro mandato”, e contesta a afirmação de que “cristão não vota na esquerda”. — A Universal existe há mais de 40 anos. Se cristão não vota na esquerda, então só existe há quatro anos — brinca.
Rompido com Macedo desde 2020, Panceiro gravou vídeo em apoio ao petista, que tenta diminuir a distância no segmento evangélico para o presidente Jair Bolsonaro (PL), líder entre esses eleitores. No material, que será usado pela campanha de Lula neste segundo turno, o bispo se identifica como cristão e reafirma seu voto. A escolha, segundo Panceiro, é pautada na lealdade ao que acredita. Primeira grande liderança evangélica a assumir publicamente o voto em Lula, ele define o ex-presidente como “um homem de Deus”.
— Não sou “Maria vai com as outras”. Desde o primeiro mandato de Lula, voto nele. Conheço a pessoa dele, trabalhei com ele na primeira campanha, com Dilma. Creio no que ele vai fazer de bom para esse país. É um homem bom, um homem de Deus — diz.
A postura vai de encontro ao que tem sido pregado pela congregação que deixou há dois anos. Ainda em janeiro deste ano, um artigo publicado no site da Igreja Universal afirmava que era incompatível ser cristão e votar em candidatos da esquerda. O lema passou a ser disseminado com ainda mais ênfase ao longo do ano, e se reproduz em outras denominações evangélicas, como a Assembleia de Deus Vitória em Cristo, do pastor Silas Malafaia — e especialmente desde a chegada de Bolsonaro ao Palácio do Planalto.
Na avaliação de Panceiro, o discurso combativo à esquerda é, na verdade, uma forma de mostrar alinhamento ao atual presidente. Ele lembra que a Universal caminhou junto com Lula e o PT ao longo de seus mandatos e compara as verbas do governo federal a um pão, cujos pedaços devem ser divididos — uma metáfora para as verbas que podem ser distribuídas a emissoras, por exemplo.
— É como um pão, e cada um quer um pedaço. Se Bolsonaro pode dar um pedaço maior, preferem ficar com ele — diz.
O problema fica ainda maior, segundo Panceiro, no momento em que a preferência de líderes por um candidato passa a se tornar uma imposição aos fiéis. Ele explica que “se uma parte dos evangélicos quiser votar no Bolsonaro, tudo bem”. E destaca que vai levar sua posição, favorável ao petista, à Igreja das Nações — Mas vou falar do voto com consciência — pontua.
— O meu presidente, 100%, é Lula. Tenho o direito de votar em quem eu quiser e respeito o voto de todos. Só não concordo com uma coisa: o pastor chegar no púlpito e obrigar ou impor a votar em alguém porque vai se beneficiar. É covardia — completa Panceiro.
Pesquisa Ipec divulgada nesta quarta-feira mostrou que Lula registra 31% contra 61% de Bolsonaro entre os eleitores evangélicos, em projeção para este segundo turno. Se comparado ao cenário geral, em que o petista tem 51% e o presidente, 43%, a derrota de Lula fica ainda mais explícita, o que explica a tentativa de falar com esse eleitorado.
Panceiro nega, no entanto, que esteja atuando de maneira estratégica na campanha do petista que, segundo ele, “não precisa da estratégia da gente”.
— A gente dá um ou outro conselho, mas creio que ele está no caminho certo. Lula sempre foi muito sábio, mas depois do tempo que passou na cadeia ficou ainda mais. Acredito na inocência dele e foi um período importante, inclusive, para saber quem está com ele de verdade — diz.
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