Arritmia cardíaca pode causar tontura, desmaio e afetar cérebro

Portal SBN
Quarta, 20 de outubro de 2021, 16:15:21

Arritmia cardíaca pode causar tontura, desmaio e afetar cérebro

Saúde - Coração

O comprometimento neurológico enfrentado pelo zagueiro uruguaio Juan Manuel Izquierdo desde o mal-estar no jogo do Nacional-URU contra o São Paulo pela Conmebol Libertadores é uma consequência possível em casos graves de arritmia cardíaca e da parada cardiorrespiratória provocada pelo batimento irregular do coração. Segundo o último boletim médico, o atleta tem quadro neurológico crítico.

Segundo especialistas, uma arritmia cardíaca pode causar tontura e desmaio e, posteriormente, comprometer o funcionamento cerebral, como aconteceu com Izquierdo, porque o batimento irregular do coração prejudica o bombeamento de sangue para o corpo e, consequentemente, para órgãos vitais, como o cérebro.
 
Uma arritmia cardíaca é o batimento em ritmo anormal do coração, seja irregular, acelerado ou muito lento. Existem diversos tipos, como a taquicardia (batimento acelerado) e a bradicardia (batimento devagar).

— Uma arritmia cardíaca pode levar ao desmaio (síncope) porque interfere no fluxo sanguíneo normal do coração. Quando o coração bate de forma irregular, pode não conseguir bombear sangue de maneira eficaz para o corpo, incluindo o cérebro. Essa falta de sangue oxigenado no cérebro pode causar tontura e fraqueza e, eventualmente, levar a uma perda de consciência — explica o médico cardiologista Lucas Waldeck, da Casa de Saúde São José, no Rio de Janeiro.

— Esse tipo de episódio é particularmente perigoso em atletas, pois o esforço físico intenso pode exacerbar a arritmia, aumentando o risco de desmaios durante a prática esportiva. Em casos mais graves, uma arritmia pode evoluir para uma parada cardíaca, em que o coração para de bombear sangue completamente.

Foi o que aconteceu com Izquierdo. Depois de cair no gramado aos 39 minutos do segundo tempo contra o São Paulo, o zagueiro deu entrada no Hospital Israelita Albert Einstein em "parada cardíaca, de início indeterminado, secundária a uma arritmia", segundo boletim médico.

Ele passou por manobras de ressuscitação cardiopulmonar, incluindo procedimento de desfibrilação, sendo encaminhado à Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde está sedado, em ventilação mecânica e sob cuidados intensivos neurológicos.
 
Em outro boletim posterior, o hospital informou que houve "progressão do comprometimento cerebral e aumento da pressão intracraniana". Na última comunicação, a equipe médica citou que o jogador está com "quadro neurológico crítico".
O cardiologista e médico do esporte Mateus Freitas Teixeira, diretor da Sociedade de Medicina do Exercício e do Esporte do Rio de Janeiro, pontua que tanto a arritmia quanto a parada cardíaca são capazes de levar a comprometimentos neurológicos.

— Quando é grave, a arritmia não consegue bombear sangue para a cabeça e os outros órgãos. Quando não consegue fazer isso, provoca uma irritação no cérebro e faz com que a pessoa tenha convulsão. Isso já é sinal de parada cardiorrespiratória importante. Por isso há a alteração neurológica. Mas obviamente o comprometimento neurológico dele agora é consequência da parada cardíaca. Ele teve o período de parada e houve manobras de ressuscitação, com choques e tudo mais. Isso faz com que ocorra edema cerebral de pós-parada — detalha Mateus.

— A falta de oxigênio no cérebro por apenas alguns minutos pode causar lesões neurológicas significativas, que podem afetar funções motoras e cognitivas e até mesmo resultar em coma. Se a arritmia evolui para uma parada cardíaca, o risco de danos neurológicos aumenta ainda mais, pois a falta de circulação por um período prolongado pode levar à morte cerebral. A rápida intervenção médica é essencial para restaurar o ritmo cardíaco e evitar danos neurológicos permanentes — acrescenta Lucas.

Esporte para quem tem arritmia cardíaca
 
Segundo os especialistas, quem possui arritmia cardíaca pode (e deve) praticar exercícios físicos, mas é necessário identificar o tipo e a gravidade e fazer acompanhamento médico.

— A maior parte das arritmias cardíacas é benigna e não impossibilita a prática esportiva. Em quadros mais graves, o paciente necessita ficar afastado definitivamente de práticas esportivas principalmente competitivas, sendo indicado, em alguns casos, o implante de um desfibrilador, que chamamos de CDI (cardiodesfibrilador implantável) — pondera o cardiologista Antonio Amorim de Araújo Filho, especialista pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).

No caso de Izquierdo, o secretário nacional de Esporte do Uruguai, Sebastián Bauzá, revelou nessa segunda-feira que exames detectaram uma "pequena arritmia" quando o jogador tinha 17 anos e estava no Atlético Cerro. Hoje, o uruguaio está com 27.

O presidente do Nacional, Alejandro Balbi, tinha dito, dias atrás, que não havia registro de problemas cardíacos no histórico de Izquierdo.

Conforme os especialistas, existe a possibilidade de uma arritmia cardíaca passar despercebida por exames.

— Algumas arritmias cardíacas podem ser silenciosas ou não ocorrer no momento dos exames, especialmente se forem de natureza intermitente. Isso significa que uma pessoa pode ter episódios de arritmia que não são detectados porque ocorrem esporadicamente e não durante o exame. Além disso, algumas condições genéticas que predispõem a arritmias não se manifestam em exames de rotina, como um eletrocardiograma, a menos que o problema esteja ativo no momento do teste. Por isso, mesmo um coração aparentemente saudável em exames pode estar suscetível a episódios súbitos de arritmia — analisa o cardiologista da Casa de Saúde São José.

— Essa situação é mais comum em jovens atletas, já que as arritmias podem ser desencadeadas por fatores como desidratação, estresse intenso ou alterações anatômicas no coração associadas ao treinamento. Além disso, doenças cardíacas subjacentes podem se desenvolver ao longo do tempo e não serem detectadas até que provoquem um evento agudo, como uma arritmia.

Uma vez detectada uma arritmia, é necessário saber de qual tipo se trata, porque há arritmias benignas e malignas, e qual é a gravidade.

— Quando a gente analisa uma arritmia, sabe se é benigna ou maligna; se precisa de intervenção para que a pessoa faça atividade física ou se não, se é só acompanhar. Em nenhum momento os profissionais que trabalham com esporte pensam que a atividade não pode ser realizada. Pacientes com arritmia devem fazer atividade física, mas tem que saber qual arritmia, para decidir qual esporte e o nível de intensidade — contextualiza o médico do esporte.
 
Conforme o especialista da Casa de Saúde São José, certas arritmias podem ser agudas e não se repetirem depois, dependendo da causa. Mas, da primeira ocorrência em diante, é necessário fazer acompanhamento médico, pois essas arritmias "podem indicar a presença de uma condição cardíaca subjacente que requer atenção contínua".

— Mesmo que a arritmia não se repita, a causa que a desencadeou pode precisar de tratamento para prevenir futuros episódios. Em casos mais graves, mesmo uma arritmia que inicialmente parece aguda e isolada pode evoluir para uma parada cardíaca, especialmente se não for adequadamente avaliada e tratada.
 

Causas de arritmia cardíaca
 
As arritmias cardíacas ocorrem quando há um problema com os impulsos elétricos que controlam os batimentos do coração. As causas podem ser diversas:
 

Doenças cardíacas, como infarto do miocárdio;
Insuficiência cardíaca;
Doença arterial coronariana;
Desequilíbrios eletrolíticos (níveis anormais de potássio, sódio, cálcio ou magnésio no sangue);
Uso de certas medicações;
Consumo de álcool e cafeína em excesso;
Uso de drogas;
Estresse físico e/ou emocional extremo.
 
 

Sintomas da arritmia cardíaca
 
Palpitações;
Dor ou desconforto no peito;
Cansaço;
Fraqueza;
Tontura;
Falta de ar;
Desmaio.
 
Fontes:
Mateus Freitas Teixeira é cardiologista, médico do esporte e diretor da Sociedade de Medicina do Exercício e do Esporte do Rio de Janeiro.
 


 
 
 
 

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