Quando a compaixão sustenta o que a dor não explica
A família vivia suas vidas numa enorme fazenda. Tudo era harmonia.
Mesmo as dificuldades financeiras que os alcançavam encontravam fortalecimento moral na fé que nutriam.
Ali a presença de Deus jamais era esquecida.
A prece era uma constante nessas vidas. Oravam em conjunto antes das refeições, agradecendo pelo alimento, pelo que tinham, oravam no templo religioso que frequentavam semanalmente.
À noite, antes de adormecer, a mãe peregrinava pelos quartos de cada uma das filhas, perguntando se desejavam compartilhar sua prece, ou seja, falar a respeito do que haviam pedido ao Senhor.
Eram pedidos forrados de inocência. Como o da filha do meio, que pedia, toda noite, para ter mais um cachorro.
Ela costumava acrescentar pedido expresso, que não tem retorno. Ela sabia que aquele pedido esbarrava na vontade dos pais, que diziam que seus cinco cães eram suficientes.
Quando ela começou a apresentar fortes dores na região do abdômen, foram se somando exames, médicos diversos e variados diagnósticos.
Começaram as restrições alimentares. Quando Annabel foi proibida de comer pizza, as irmãs firmaram o pacto de não mais comerem até o dia em que ela tivesse o seu quadro de saúde melhorado e fosse liberada da restrição.
Era a forma de dizerem que estavam com ela.
Finalmente, com o diagnóstico terrível do grave problema digestório, que a impedia de processar os alimentos e que, fatalmente, a levaria à morte, em pouco tempo, a vida da família se transformou em verdadeiro calvário.
Buscando apoio no templo religioso, a mãe foi advertida de que ela e o marido deveriam repensar suas ações.
Afinal, se haviam sido feitas tantas preces por todos os membros da comunidade religiosa e a menina não melhorava, com certeza isso se devia aos pecados do casal. Ou da própria menina.
Para o coração sofrido daquela mãe, aquilo soou como uma acusação.
Deus, Pai de amor e bondade, todo justiça, estaria castigando sua pequena e toda sua família?
Recordou-se do texto do evangelista João sobre o episódio do cego de nascença, no qual os discípulos indagaram a Jesus:
Mestre, quem pecou: este homem ou seus pais, para que ele nascesse cego?
Ao que o Mestre respondera: Nem uma coisa nem outra, mas para que nele se mostre o poder de Deus.
O fato nos adverte de como devemos ser cuidadosos ao expressarmos nossas ideias a quem se encontra no limite do desespero.
Embora saibamos que tudo que nos ocorre tem uma razão de ser, dentro das corretas Leis Divinas, nenhum de nós tem o direito de acrescentar mais dor a quem sofre.
Compaixão deve ser a nossa bandeira.
Demonstrar compaixão em face do sofrimento não é apenas um ato de bondade, mas a excelência em reconhecer e aliviar a dor do próximo.
Quando exercida com sinceridade, a compaixão eleva quem a oferece e conforta quem a recebe, provando ser o antídoto mais eficaz contra o isolamento da angústia.
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Para quem está atento à história, que é real, informamos que Annabel curou-se da grave problemática e já passou das duas décadas de uma existência feliz e produtiva.
Redação do Momento Espírita, com base
na vida de Annabel Beam, a partir do livro
Milagres do Paraíso, de Christy Wilson Beam,
ed. Ebenézer.
Em 22.11.2025

