Quando a alegria inspira, mas também pede cuidado
Ele é feito daqueles momentos em que usufruímos da viagem dos nossos sonhos e estamos nos encantando com as paisagens.
Aquelas mesmas que vimos, muitas vezes, em livros, ou na internet. Tudo é um deslumbramento.
A catedral Notre Dame de Paris, restaurada, após o incêndio que a devastou, há poucos anos. Posamos ao lado das gárgulas que ficam nas extremidades das calhas, no exterior do edifício.
Alongamos a vista, descobrindo as belezas da cidade, lá do alto das torres.
A Torre Eiffel, o Arco do Triunfo, os barcos no rio Sena. Os olhos não cansam de olhar, querendo, mais do que a câmara digital, registrar cada ângulo na memória e no coração.
Captando as imagens, de forma rápida, é comum que postemos em nossas redes sociais detalhe a detalhe.
Comentamos nossas experiências, enfatizamos a riqueza histórica do Museu do Louvre: os quadros, as esculturas, os documentos.
Nos grupos de whatsapp, enviamos fotos e mais fotos à medida que descobrimos esse ou aquele monumento.
Compartilhamos imagens das acomodações do hotel, das refeições.
O que não lembramos é que, por vezes, isso que fazemos no intuito de compartilhar a nossa alegria, alcança corações distantes, presos a problemas graves e dificuldades sem conta.
Um benfeitor escreveu certa vez: Não amasses o pão de tua alegria nas lágrimas do semelhante.
É um alerta para o cuidado de não ferirmos ninguém na fruição desses momentos. Uma mensagem importante que nos alerta que devemos usufruir desses momentos felizes sem perder de vista os cuidados com o próximo.
Quando exibimos as fotos dos hotéis luxuosos, dos pratos exóticos, de alto valor, deveríamos nos perguntar se a maioria dos que as verão tem condições de frequentar qualquer um desses lugares. Ou saborear alguma dessas iguarias.
Somos responsáveis pelo que fazemos, logo, pelo que publicamos. O que estamos depositando em corações alheios?
É evidente que podemos partilhar nossos momentos felizes e nossas conquistas. Mas isso pode ser feito de maneira semelhante ao que fazíamos antigamente quando as fotos eram reveladas e copiadas em papel.
Podemos enviar essas imagens individualmente e apenas para amigos queridos ou pequenos grupos que sabemos que vibram com a nossa felicidade.
Em geral, são poucos esses amigos sinceros e bons, essas almas queridas de nossas vidas que nos querem bem e nas quais podemos confiar para expor nossa intimidade sem ferir nem ofender, recebendo de volta apenas bons pensamentos e vibrações.
Fica a reflexão para todos nós, usuários das novas tecnologias, nestes tempos em que, com uma tecla, podemos alcançar em segundos a mente de centenas ou mesmo milhares de pessoas.
Sejamos cuidadosos e generosos ao comermos o pão da nossa alegria, conquistado com nossos esforços e méritos.
Dividamos a alegria com nossos amores sem permitir que desses momentos ricos, íntimos e bons, lágrimas sejam produzidas no próximo, ainda que virtualmente.
Pensemos nisso.
Redação do Momento Espírita, com base no artigo
Cuidados na fruição do pão da alegria, de
Marcelo Anátocles Ferreira, publicado no
Jornal Mundo Espírita, outubro 2025, ed. FEP.
Em 21.11.2025

