Vira para um lado, vira para o outro… e nada de voltar a dormir? Se isso soa familiar, você não está sozinho. Cerca de 66% dos brasileiros dormem mal, segundo pesquisa publicada na revista científica Sleep Epidemiology. Despertares noturnos acontecem com muito mais frequência do que se imagina -- e não são “só” incômodos passageiros.

Eles fragmentam o sono, impedem que o corpo acesse as fases profundas e restauradoras do descanso, e com isso afetam diretamente a saúde física e mental. No dia seguinte, esse distúrbio pode se manifestar em cansaço persistente, humor instável, dificuldade de concentração, memória prejudicada. Para entender como lidar com o problema, conversamos com a médica otorrinolaringologista Tatiana Vidigal, especialista em Medicina do Sono da Academia Brasileira do Sono (ABS).

Por que acordamos no meio da noite?
 
“As causas são variadas: ansiedade, estresse, dor, refluxo, apneia do sono, necessidade de ir ao banheiro ou até fatores externos, como barulho e luz”, explica Vidigal.

Ela acrescenta que também é comum o problema em pessoas que consomem cafeína, álcool ou certos medicamentos. “Cafeína e nicotina são estimulantes que atrapalham o sono. O álcool pode até induzir o sono no início, mas fragmenta a noite e gera despertares. Já a ansiedade é um dos principais gatilhos para insônia de manutenção.”

Problemas respiratórios como nariz obstruído, por desvio de septo, hipertrofia de cornetos, e condições como o bruxismo do sono também são causas frequentes que fragmentam o descanso e levam a despertares frequentes.

O que fazer na hora para tentar voltar a dormir
 
Segundo a especialista, a primeira atitude é não se desesperar. É importante manter o ambiente calmo: não olhar o celular, evitar se preocupar com o horário e buscar técnicas de relaxamento, "como respiração lenta e profunda. Às vezes, apenas mudar de posição e focar na respiração já ajuda.”

Mas e se o sono não volta? A médica recomenda não insistir demais. “Se após 20 a 30 minutos a pessoa não conseguir dormir, é melhor levantar, ir para um ambiente tranquilo e fazer uma atividade relaxante, como ler um livro leve ou ouvir música calma. Isso evita que a cama fique associada à insônia.”

A especialista alerta que os despertares noturnos podem indicar uma condição que merece investigação. Se os despertares são frequentes (três ou mais vezes por semana), duram mais de três meses ou impactam a qualidade de vida, causando cansaço, irritabilidade ou queda no desempenho, é fundamental procurar um médico especialista em sono para investigar as causas e indicar o tratamento adequado.