Mulher descreve como médico, pai de seu bebê, fez nela um aborto forçado em um motel

Portal SBN
Quarta, 20 de outubro de 2021, 16:15:21

Mulher descreve como médico, pai de seu bebê, fez nela um aborto forçado em um motel

'O pai do bebê que eu carregava no ventre fez em mim um aborto forçado'
Brasil - Crime

“Aos 19 anos, fui mãe pela primeira vez. Era muito jovem, mas não me arrependo, porque minha filha foi o presente mais lindo que eu poderia ter na vida! Três anos, depois, em 2010, conheci um médico por meio de alguns amigos em comum, e passamos a namorar. Foi um relacionamento maravilhoso! Ele frequentava a casa dos meus pais, levávamos juntos minha filha para a creche, era uma relação tranquila e normal. Eu o amava muito e sentia que o sentimento era recíproco. Não só eu, como todos que conviviam conosco.

Ele morava em outro estado, no Maranhão, e trabalhava na minha cidade, Axixá, no Tocantins, duas vezes por semana. Ele chegava na quarta feira e ia embora na sexta, pela manhã. E esse era o tempo que ficava lá comigo. Tivemos uma relação de três anos quando, em 2013, descobri que ele era casado e coloquei um ponto final na nossa relação. Me senti usada, enganada e envergonhada por estar naquela situação de amante. Eu não merecia aquilo!

Antes, eu acreditava que teríamos um futuro juntos! Quando nos separamos, alguns meses depois, conheci outra pessoa e vivemos juntos por quase três anos. Desse relacionamento, fui mãe pela segunda vez. Meu filho nasceu em abril de 2015. Ao me separar do pai do meu filho, um tempo depois, o tal médico voltou a me procurar e caí na conversa dele novamente. E é aí que começa o meu pesadelo.

Durante cinco meses, tivemos uma ótima relação, até o momento em que descobri que estava grávida. Assim que desconfiei, logo entrei em contato com ele, mesmo estando em choque com a notícia, pois eu ainda tinha um filho pequeno na época o menino tinha menos de dois anos, e minha menina tinha seis. Sou mãe solo e, com a ajuda dos meus pais, nunca nos faltou nada. Também nunca dependi de homem para nada, sempre me virei sozinha. E falo isso com uma forma de desabafo, para que entendam que eu não engravidei desse médico por interesse. Eu realmente gostava dele e estava muito envolvida. Mas, infelizmente, é assim até hoje: sou julgada pelo que aconteceu!

Após entrar em contato com o médico, ele disse estar muito ocupado e que entraria em contato comigo depois. Eu já havia lhe dito da minha desconfiança quanto à gravidez, mas tinha feito o exame de sangue e tinha dado positivo. Ele disse que não poderia falar, porque era Carnaval e estava muito ocupado. Quando me retornou, ele estava normal e não demonstrava nenhum sentimento, nem ruim nem bom. E foi nessa ligação que ele disse para a gente fazer um exame de ultrassom. Na época, havia muitos casos de microcefalia, e ele se aproveitou disso para usar a desculpa de retirar meu sangue quando me encontrasse.

Dias depois, ele entrou em contato comigo e marcou para que nos encontrássemos no dia 2 de março de 2017 para eu fazer uma ultrassom e um exame de sangue pelo menos era o que ele dizia. Por ser médico, ele afirmou ter um aparelho de ultrassom portátil e que poderia levá-lo até mim.

Ao chegar à minha casa para me buscar, ele estava acompanhado por seu motorista. Deixamos ele no hotel, que ficava em frente a casa em que eu morava, e logo seguimos para a cidade de Augustinópolis, no Tocantins. Durante todo o percurso, conversamos normalmente. Ele parecia estar todo orgulhoso e falava da festa de Carnaval a que havia ido na cidade dele. Estava normal, como em todas as vezes que nos encontramos antes. Ao chegar em Augustinópolis, estranhei, porque sempre ficávamos em um mesmo hotel mas, nesse dia, ele me levou para um motel. Achei estranho, mas não contestei. Quando chegamos lá, tudo parecia normal. Fizemos amor, conversamos e, então, pedi a ele que fizesse o ultrassom em mim. Estava ansiosa para ver o neném e escutar o seu coraçãozinho.

Ele fez o exame, disse que realmente tinha um bebê no meu ventre e que ia fazer uma coleta do meu sangue. Não entendi bem, mas confiei nele, por ser médico. Jamais imaginei o que estava por vir. Me lembro de que estava sentada na cama, ainda nua, quando ele tirou da maleta uma bolsa transparente com um líquido também transparente. Perguntei o que era, e ele me disse que seria para manter o sangue até chegar ao laboratório. Pensei que poderia ser um exame de sangue para reconfirmar a gravidez. Eu, leiga no assunto, confiava plenamente nele e deixei tirar meu sangue.

Foi quando ele introduziu a agulha pela primeira vez, e seguimos conversando. Ele olhou para mim e disse: ‘Você é forte!'. Achei que ele estava se referindo ao fato de eu não ter medo de agulha nem de ver sangue. Ele viu que a quantidade da substância que me injetou não tinha sido suficiente, então, me deu uma segunda injeção. Minha veia logo estufou, e senti muita dor. Segundos depois, minha garganta fechou e senti que ia morrer. Me recordo de ainda ter dito que não estava me sentindo bem. Comecei a ver tudo embaçado e perdi o sentido, fiquei desacordada.

Horas depois, quando comecei a voltar a mim, já estava deitada no banco da frente do carro dele, ainda sem entender nada. Olhei para trás e vi que o motorista dele também estava ali no carro. Ele me levou para casa e, quando despertei um pouco mais, vi que já estava no meu quarto, e ele sentado ao meu lado.

A essa altura do campeonato, eu já tinha entendido tudo, porque passei a sentir fortes dores na barriga e percebi que saía algo de mim. Estava sangrando. Fiquei tão perplexa que não conseguia falar nada. Agarrei ele pela camisa com todo a força que ainda me restava, queria que ele me explicasse por que tinha feito aquilo comigo. Eu gritava, gritava muito! Era o único som que saía da minha boca: gritos de desespero! Doía a minha alma! Me senti culpada, enganada e não conseguia expressar direito o que eu sentia, além de gritar. Um grito de desespero, de socorro.

O motorista dele entrou no meu quarto e disse que estavam ligando muito para o celular dele e que era melhor ir embora. Foi quando ele me deixou ali sozinha, abalada, com fortes dores e em total desespero!

Um tempo depois, chegou uma amiga. Soube depois que ele ligou para ela e pediu que fosse cuidar de mim. A garota chegou sem entender nada e me encontrou chorando, desesperada e gritando sem parar: ‘Ele matou o meu filho!'. Em seguida, vieram outros sintomas físicos, como vômito. E as dores só aumentavam. Minha amiga me ajudou a ir até o banheiro, porque estava com dificuldades de andar. Tive que colocar alguns absorventes para tentar estancar o sangue que escorria pelas minhas pernas. Eu chorava mesmo dormindo, tive pesadelos! O trauma foi tão grande que nem quando eu dormia conseguia esquecer tamanha violência.

No mesmo dia, liguei para o motorista dele falando das fortes dores que sentia e pedindo ajuda, porque já não sabia o que fazer. Até então, eu achava que ele era meu amigo, mas foi só mais um participante, cúmplice e conivente de todo esse filme de terror que vivi.

Acreditava que o meu bebê seria outro menino. Sempre tive isso dentro de mim! Amei demais esse bebê desde o momento em que soube da sua existência. Já imaginava como seria seu rostinho. Nunca idealizei criar essa criança junto do pai, porque sabia que ele era casado. Eu só queria ter tido a oportunidade de ter meu filho. Me lembro de quantas vezes passei a mão na barriga pensando no bebê, mesmo depois do aborto forçado. Até hoje, todo dia 2 de março, ainda é difícil para mim.

Esse cara me ligou muitos dias depois, disse que precisava me pedir perdão pessoalmente. Preferi nunca mais vê-lo na minha vida. Sinceramente, acho que ele se arrependeu de ter deixado provas. Mas não acho que se arrependeu pelo que fez. Eu só queria entender por que ele agiu assim, queria alguma explicação. Mas, graças a Deus, nunca mais o vi.

Meses depois, fiz uma denúncia, mesmo me sentindo ameaçada e com medo desse homem. Fiz a denúncia na delegacia de Augustinópolis, no Tocantins. Só para se ter uma ideia, demorou cinco anos para o Ministério Público aceitar a minha denúncia. O motivo dessa demora, diante de uma denúncia tão séria como essa, eu também gostaria muito de saber. Há dois anos, saíram algumas matérias em jornais locais lá do Tocantins falando do meu caso e repercutiu o suficiente para que alguns delegados entrassem em contato comigo. E foi só assim que a minha denúncia começou a ser investigada.
Nessa época, eu tinha um bar e já não conseguia mais trabalhar com medo de tudo e de todos. Vendi tudo o que tinha, resolvi sair do Brasil e fui viver na Europa, começando a minha vida do zero lá.

Faz três anos que eu e meu atual marido nos conhecemos e há um ano e meio estamos casados. Tento refazer a minha vida, voltar a sorrir e a acreditar nas pessoas e no amor! Meu esposo sempre soube de tudo que me aconteceu, nunca escondi nada!

Desde o dia do crime, sigo com tratamento psiquiátrico e, ainda hoje, tomo medicamentos todos os dias, pela manhã e à noite, para conseguir dormir. Tomo ainda remédios como Rivotril, Lorazepan, Sertralina e um antidepressivo. Cada dia é uma luta para superar e venho conseguindo. Enfrento diariamente os meus pensamentos, mesmo depois de tantos anos. Guardei sozinha essa dor por muito tempo, porque me dava muita vergonha contar para as pessoas. Foi um verdadeiro martírio!
Agora, em 2023, meus advogados conseguiram que o Ministério Público aceitasse a denúncia, causando uma repercussão nacional. Isso me enche um pouco de esperança de ver esse crápula pagando pelo crime que cometeu. Ninguém tem o direito de decidir por mim e pela vida do meu filho. É um tremendo absurdo! Só espero que a justiça seja feita e que a leis possam protejer as vítimas, nós mulheres, de homens violentos e tóxicos como esse.

Ainda penso em gerar outro bebê, tenho só 34 anos. Ainda sonho em ser mãe de novo. É muito difícil ter que reviver tudo isso, mas é um mal necessário e sei que isso, com certeza, já está encorajando muitas outras mulheres a também denunciarem seus algozes. Só peço que seja feita justiça e que ele pague pelo que me fez!”
 

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