ES registra primeiras apreensões de Fentanil associadas ao tráfico de drogas no país
A principal suspeita da polícia é que o anestésico esteja sendo desviado ou roubado de dentro de hospitais.O Espírito Santo registrou três apreensões de Fentanil este ano, as primeiras associadas ao tráfico de drogas no país, segundo a Polícia Civil capixaba. O anestésico é 100 vezes mais potente que a morfina e em altas doses pode causar alucinações e afetar os pulmões.
A principal suspeita da polícia é que o anestésico esteja sendo desviado ou roubado de dentro de hospitais.
De acordo com o delegado-geral da Polícia Civil do estado, José Darcy Arruda, policiais identificaram durante as investigações que alguns frascos apreendidos no Espírito Santo foram fabricados em um laboratório em Minas Gerais e distribuídos por uma empresa de São Paulo.
"Aí vem também um trabalho de inteligência pra saber quem são aquelas pessoas, quem são aqueles traficantes, qual o relacionamento, qual a sua rede, que possa chegar em alguém que tenha uma influência dentro de hospitais ou que trabalha dentro de um hospital", disse Darcy Arruda.
Três apreensões em um período de seis meses
Na primeira apreensão, no mês de fevereiro, a polícia encontrou 31 frascos da substância em meio a outras drogas em uma casa abandonada que funcionava como laboratório do tráfico, em Cariacica, na Grande Vitória.
Meses depois, em agosto, 41 ampolas com Fentanil foram apreendidas em uma região de intenso tráfico de drogas em Vitória. Investigações apontam que traficantes estão usando o anestésico para potencializar o efeito de outras drogas e aumentar a dependência de quem compra entorpecentes.
A última apreensão foi no final de agosto, na BR-101, em Rio Novo do Sul, no Sul do estado. Segundo a PRF, o material estava dentro do carro e a suspeita, uma mulher de 45 anos, informou que a droga seria entregue para o namorado dela, que mora em Marataízes, na mesma região.
Efeitos no organismo
Wellington Pioto, presidente da Associação Brasileira de Anestesiologia explicou como o Fentanil pode afetar o sistema respiratório.
"Ele faz com que a musculatura do tórax não consiga se mover e uma das grandes responsáveis - além do diafragma - para que o seu pulmão se encha de ar são as musculaturas intercostais. Então ela se trava e você não consegue expandir a caixa toráxica, por isso não consegue respirar", disse o médico.
Em mãos de profissionais preparados, o especialista disse que não há risco para os pacientes, mas em pessoas sem conhecimento, o produto pode levar até a morte.
"Em mãos hábeis, com anestesiologistas, CTistas, preparados para trabalhar com esse tipo de droga não existe risco algum. Em mãos de pessoas não hábeis ele é extremamente perigoso. Ele pode matar sim", disse o médico.
Daniela de Paula, perita chefe do Departamento de Laboratórios Forenses da Polícia Civil, disse que uma regulamentação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária determina que o anestésico só pode ser administrado em hospitais com acompanhamento médico.
"Você tem ali profissionais de saúde que estão monitorando as suas condições, avaliando como está sua respiração, seu batimento cardíaco, tem todo um aparato pra garantir a sua segurança", disse a perita.
Uso de Fentanil é considerado epidemia nos EUA
As investigações contam com o apoio de profissionais da Associação Antidrogas norte-americana que atuam no Brasil. O site oficial da associação afirma que o Fentanil é a ameaça mais mortal que os Estados Unidos já enfrentaram.
Neste ano, os Estados Unidos testemunharam um marco sombrio: pela primeira vez, as overdoses mataram mais de 100 mil pessoas em todo o país num único ano. Dessas mortes, mais de 66% estavam ligadas ao fentanil, um opioide sintético 50 vezes mais poderoso que a heroína.
O Brasil trabalha para evitar o que já acontece no Estados Unidos. Por lá, o uso de Fentanil se transformou em uma epidemia e usuários vagam pelas ruas como zumbis e lembram as cracolândias brasileiras.
Portal SBN