'Concordamos com o jogo, não adianta chorar’, diz Mourão
Entrevista: ‘Nós concordamos em participar do jogo, agora não adianta mais chorar’, diz MourãoQual balanço o senhor faz desses quatro anos?
O que aprendi é que você tem que entender qual o papel do vice-presidente. A Constituição diz que o Executivo é exercido pelo presidente e seus ministros. O vice-presidente é um apêndice. Tu só vai se dar conta disso quando vira efetivamente vice-presidente.
Isso é frustrante para quem senta aqui?
Acho que todos (os vices) se frustraram. Nos Estados Unidos, na Argentina, no Uruguai, o vice-presidente é também presidente do Senado. Acho que é uma mudança que seria boa aqui. Por outro lado, pela minha personalidade, muita gente me procurou para mostrar projetos, pedir apoio nos ministérios, convidar para fazer palestra, visitar municípios, estados. Eu não tive marasmo.
O senhor admite que teve dificuldade de comunicação com o presidente, o que pode ter gerado as brigas?
Eu nunca briguei com ele publicamente. Ele reclamava de mim, pô. É aquela história, eu tenho noção, né? No atacado nós temos o mesmo pensamento, mas a forma de fazer as coisas é outra.
Qual é a diferença?
Ele é um sujeito mais incisivo, mais verborrágico, e eu não sou. Minha forma de fazer as coisas é outra. Ele sempre foi deputado. Na Câmara, se você não se destaca pela peleia, é engolido. E o papel do Bolsonaro era meter o dedo nos outros. E ele continua fazendo esse papel. E eu nunca fui disso, eu passei dessa fase na minha vida.
Como senador, o senhor manterá o mesmo perfil?
Não é nem uma questão de ser ou não ser conciliador. Você tem que entender que na política uma andorinha apenas não faz verão. Se você não consegue agregar as pessoas em torno das suas ideias, você não vai fazer nada, vai ficar igual um Dom Quixote bradando ao vento.
Nesses quatro anos, do que o senhor se arrepende?
Talvez de determinadas opiniões eu teria guardado mais para mim.
Como qual?
Não lembro aqui de cabeça. Mas eu teria falado menos.
Qual foi o dia mais difícil?
Tu tem que entender minha personalidade. Sempre fui acostumado a vencer desafios. Fui de um para outro, não tive tempo ocioso. Para minha personalidade, o que eu vivi aqui foi muito tranquilo. Tive momentos de estresse apenas.
Estresses com Bolsonaro?
Nunca me estressei com ele. De chegar e falar “perdi meu sono”. Eu tomo uísque todo dia antes de dormir, então não perco o sono.
O que o senhor achou do pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro nesta terça-feira?
Tranquilo, sereno. Ele não acusou o processo eleitoral, da forma que eu achei que acusaria, não acusou o opositor. Já está estendida a ponte para que a transição seja executada, pelo Ciro Nogueira e quem for de direito da chapa do Lula.