Três mães denunciam morte de filhos após parto com médico acusado de violência obstétrica
Mulheres acusam o médico de negligência, erro médico e injúria. Defesa do médico diz que são seis processos, mas que não há provas em alguns deles.Mães que deram à luz em Niquelândia, no nordeste de Goiás, denunciaram à Justiça o ginecologista e obstetra Américo Lúcio Neto. Pelo menos três bebes morreram logo após o parto. Os processos foram movidos por mulheres que acusam o médico de negligência, erro médico e injúria.
O Hospital Municipal Santa Efigênia disse que depois de ficar sabendo dos processos na Justiça por supostos erros médicos decidiu afastar o médico Américo Lúcio Neto das atividades na unidade em Niquelândia. Há também um procedimento interno para decidir pelo afastamento do médico em todas as unidades de saúde da cidade.
O advogado Luiz Muglia, que defende o médico em seis processos na Justiça, disse que não existe condenação criminal nem administrativa contra ele. "Não existe condenação ou decisão desfavorável ao meu cliente. São seis processos, mas não são os mesmos objetos nem as mesmas pessoas. Não são as mesmas provas e tem processo que nem prova tem. Quem alega, tem que provar", rebateu Muglia.
Em nota, o Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego) disse que não comenta processos em andamento, seguindo o que determina o código de processo ético do conselho.
Uma das mulheres que fez denúncia é a pescadora Leiva Ferreira Barbosa, que chegou ao Hospital Municipal Santa Efigênia com fortes contrações e diz que foi ofendida pelo médico.
"Ele me deu o toque e me deixou lá. Perguntou quantos anos eu tinha, disse que tenho 36 anos, e quantos filhos eu tinha, falei que tinha três filhos, aí comentou: ‘o que uma mulher velha de 36 anos queria ter filho’”, desabafou Leiva Ferreira.
A pescadora contou ainda que, quando foi levada para a sala de parto, o médico forçou um parto normal e fez cortes no órgão genital dela para facilitar a passagem da cabeça da criança. Era uma menina, que morreu logo após o parto.
"A cabeça da criança passou, mas o resto não passava. Ele puxou, puxou, e as enfermeiras empurraram minha barriga de um lado para o outro. Eu pensei que ia morrer também”, lamentou a pescadora.
No processo, Leiva Ferreira diz que a criança permaneceu por mais de 40 minutos presa ao canal vaginal. Um médico pediatra entrou na sala só quando a criança nasceu e retirou a menina já morta do braço da mãe, para iniciar uma massagem cardíaca, injeção de adrenalina e demais procedimentos. O laudo do Instituto Médico Legal apontou como causa da morte a hipóxia, que é a falta de oxigênio intra-útero.
Outros casos
Outra paciente relatou em processo que deu entrada no mesmo hospital em 14 de dezembro de 2016 e reclamou que a unidade não ofereceu condições necessárias para garantir a integridade da criança.
Dois dias depois do nascimento, o bebê começou a gemer e teve dificuldade para respirar. Logo em seguida, ele começou a derramar secreções pela boca, só então foi pedido o encaminhamento para um hospital de Goiânia. A criança morreu no começo da noite por insuficiência respiratória.
Em outro processo, a paciente relata que tinha data marcada para o parto: 27 de outubro de 2020. Caso ela não entrasse em trabalho de parto até esse dia, deveria retornar ao hospital.
Ela retornou no dia 26, sentindo dores e o médico Américo Lúcio Neto mandou ela esperar novamente e voltar no dia 9 de novembro, quando o bebê já teria mais de 42 semanas de gestação.
Mas no dia 7 de novembro, às 11h da manhã, a mulher foi de novo ao hospital com fortes dores e chegou a ser levada para o centro cirúrgico, mas só foi anestesiada às 17h30. Após o parto, os pais foram informados que o bebê nasceu, mas não resistiu.
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