Médicos e secretarias da Saúde voltam a recomendar o uso de máscaras

Portal SBN
Quarta, 20 de outubro de 2021, 16:15:21

Médicos e secretarias da Saúde voltam a recomendar o uso de máscaras

A Covid-19 está crescendo novamente, com aumento dos números de casos e internações
Saúde - Covid-19

Os casos de Covid-19 no Brasil voltaram a uma tendência de alta pela primeira vez desde o fim de junho. Embora especialistas não esperem uma sobrecarga dramática no sistema de saúde como em ondas anteriores da doença, já é possível observar um reflexo nas internações, o que junto à baixa cobertura com a terceira dose da vacina acende o alerta de especialistas e traz de volta um item deixado de lado nos últimos meses: as máscaras.

Em nota recente divulgada pela Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, a pasta reforça o uso por indivíduos do grupo de risco de agravamento da doença, como idosos, imunossuprimidos, gestantes e pessoas com comorbidades, mas volta a orientar também para a população geral em locais fechados e mal ventilados, como transportes públicos, e ambientes abertos com aglomerações. Para o ex-diretor da Anvisa e médico sanitarista da Fiocruz, Claudio Maierovitch, são casos em que o item de fato deve ser mantido.

— A Covid-19 está crescendo novamente, com aumento dos números de casos e internações. Os casos graves trazem grande sofrimento, mas há ainda pessoas que continuam com sintomas importantes por meses depois da infecção. Então é importante o uso da máscara para que a medida funcione como proteção coletiva, mais efetiva do que o uso apenas como autoproteção, e evite a disseminação da doença — afirma o médico, que é também vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).

Levantamento feito pelo GLOBO com estados e capitais brasileiras mostra que ao menos 15 unidades da federação e o Distrito Federal reiteraram o uso da proteção em ambientes fechados e transportes públicos. São Paulo, Santa Catarina, Alagoas e Rio Grande do Norte foram além, ratificando oficialmente as orientações de forma mais detalhada. Nesses locais, a orientação é para qualquer lugar onde há a possibilidade de circulação do vírus, com destaque para clínicas e hospitais, além de lugares abertos ou fechados que possam ter aglomerações, como em casos de shows e casas noturnas.

A lista de estados com novas recomendações, porém, deverá aumentar nos próximos dias. O Acre, por exemplo, está realizando reuniões com o Departamento de Vigilância em Saúde para a definição de novas regulações no uso de máscaras em unidades de saúde do estado. A capital de Rondônia, Porto Velho, também afirmou que está editando um novo decreto sobre o uso em locais fechados e em repartições públicas do município.

— A taxa de transmissão do vírus aumentou muito pela circulação da nova subvariante da Ômicron, a BQ.1. Então ambientes fechados é de fato importante o uso. Lugares ao ar livre apenas se for com aglomeração, como comércios em áreas abertas, shows. Mas é preciso pensar também nos contatos próximos na hora de avaliar. Eu posso não ser do grupo de risco, mas acabar transmitindo para alguém mais vulnerável que convive comigo. Então a máscara é uma proteção individual, mas acaba tendo esse caráter coletivo — afirma o infectologista Alexandre Naime Barbosa, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

Impacto nas hospitalizações

Apesar de a BQ.1 demonstrar ter maior capacidade de contaminação, e estar por trás do aumento de casos, os infectologistas ressaltam que vacinados com pelo menos três doses continuam protegidos contra formas graves da Covid-19. Porém, com uma cobertura de apenas 50% da população com o esquema completo, segundo dados do consórcio de veículos de imprensa, a alta já começa a levantar os números de internados pelo país.

Em São Paulo, segundo dados do portal da secretaria estadual de Saúde, a média móvel de novas hospitalizações por Covid-19 estava em 320 por dia no último dia 16 – crescimento de 135% em relação às 136 registradas duas semanas antes.

— A ferramenta mais eficaz para reduzir a transmissão do vírus é a máscara. E nesse momento de incerteza acho prudente termos algumas precauções a mais em relação aos últimos meses, em que relaxamos bastante por um contexto de baixa de casos em que isso fazia sentido — diz o engenheiro biomédico e pesquisador da Universidade de Vermont, nos Estados Unidos, Vitor Mori, membro do Observatório Covid-19 BR.

No Rio de Janeiro, também há um aumento nas hospitalizações. No mesmo período de SP, a capital passou de um total de 35 pessoas internadas para 154 – aumento de 340%. O secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, destaca que a maioria dos hospitalizados na cidade não tem o esquema vacinal com todas as doses. Sobre o uso de máscaras, chama atenção para a importância da adesão por pessoas com sintomas respiratórios.

— Nossa preocupação é com os pacientes que não se vacinaram, que são os que estão internando hoje no Rio. A secretaria mantém a recomendação do uso da máscara para pessoas com maior risco de agravamento e com sintomas respiratórios. A máscara é um ótimo equipamento de proteção, evita a transmissão. Mas no geral a máscara é uma decisão pessoal, fica a critério da população usar ou não em locais fechados, não há no momento um cenário para o uso obrigatório — diz.

Medidas para conter o aumento de casos

A situação carioca levou a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) a recomendar o uso da proteção em todos os ambientes. Na Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC - Rio) o item passou a ser obrigatório em locais fechados. Pelo Brasil, outras grandes universidades, como a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), também passaram a obrigar a proteção.

Ainda assim, de forma geral as recomendações das autoridades públicas são apenas no campo da orientação. Parte dos especialistas, porém, defende que seria interessante tornar o uso obrigatório no país ao menos em locais fechados.

— O aumento atual de casos e óbitos provavelmente atravessará a virada do ano e só poderá ser contido com medidas que o governo atual não parece disposto a adotar, como uso obrigatório de máscaras em ambientes fechados e um grande esforço de vacinação, que deve incluir as vacinas de nova geração e a inclusão de todas as crianças com mais de seis meses — afirma o epidemiologista.

O infectologista Julio Croda, pesquisador da Fiocruz e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), concorda que medidas são necessárias agora para evitar uma explosão de casos ainda maior nos próximos meses, como a que o país viveu em outras ondas da variante Ômicron, mas considera que hoje a adesão à proteção é resultado de uma avaliação individual.

— Pode ser que experimentemos uma situação parecida com o ano passado, em que vivemos uma alta de casos justamente no final de ano até meados de janeiro. Se não adotarmos algumas medidas importantes de prevenção, podemos ver em breve essa explosão de casos como vivemos no início deste ano. Hoje isso é uma avaliação individual, mas vale a pena usar a máscara quando você tem esse aumento de casos importantes — recomenda o especialista.

Mori, do Observatório Covid BR lembra ainda que há diferenças entre as máscaras, e que, para aqueles que buscam maior proteção, a melhor é a PFF2 – aquela cujo elástico geralmente prende na nuca. Há ainda o modelo chamado de KN95, que é semelhante à PFF2, mas costuma ter elásticos que prendem na orelha e menor rigor de fiscalização para a venda. Ambas são reutilizáveis.

— No atual contexto em que as máscaras PFF2 estão mais baratas, disponíveis, elas devem ser priorizadas. A máscara de pano ou cirúrgica funciona basicamente para proteger o seu entorno, então a pessoa que está usando evita disseminar as partículas. Mas agora que o uso não é obrigatório, que é mais para um cuidado individual, a PFF2 é a melhor para se proteger — orienta o pesquisador.

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