Casamento indígena raro no ES: 'É a esperança do melhor, e que a nossa cultura seja eterna'

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Quarta, 20 de outubro de 2021, 16:15:21

Casamento indígena raro no ES: 'É a esperança do melhor, e que a nossa cultura seja eterna'

União foi a primeira entre indígenas de etnias diferentes no estado. Cerimônia celebrou a diversidade e a cultura dos dois povos.
Espírito Santo - Guarani E Tupinikim

Às margens do rio Piraquê Açú, dois jovens de indígenas, de etnias diferentes, uniram as próprias vidas e a história das duas aldeias. O casamento de Kûarasy ra’yra, de 20 anos, e Para poty mirim, de 19, foi o primeiro entre os povos Guarani e Tupinikim no Espírito Santo.

A cerimônia aconteceu na Aldeia Temática Tekoá Mirim, em Aracruz, no litoral norte do Espírito Santo, no dia 22 de novembro deste ano. Os Guarani e os Tupinikim são os únicos indígenas do estado.

A festa, que celebrou a diversidade entre esses povos contou com a presença de representantes da etnia Krenak, de Minas Gerais. Ao todo, convidados de cinco aldeias estiveram presentes.

O g1 acompanhou todos os rituais da celebração tradicional. Eles começaram dois dias antes da data do casamento. Os jovens iniciaram as pinturas dos corpos um do outro com a tinta do jenipapo.

Os traços representam a cultura de cada etnia e foram finalizados no dia da cerimônia, com a ajuda do irmão da noiva e de outros convidados.

Algumas linhas e formas são exclusivas dos noivos, mas a tradição de se pintar, não. Além da tinta preta do jenipapo, os convidados utilizam também a tinta vermelha do urucum para desenharem em seus corpos traços que são aplicados em momentos festivos e de guerras.

Para o cacique Karaí, casar sua filha mais nova com o jovem Tupinikim em uma cerimônia milenar é importante para preservar a cultura de seu povo.

Membro da tribo Tupinikim e um dos convidados do casamento, Arabiôn explica que o uso da tinta natural, extraída diretamente dos frutos, simboliza a relação dos povos indígenas com a natureza.

“Nós levamos a natureza, o nosso espírito e levamos o jenipapo e o urucum. Simbolicamente, representamos a natureza junto com a gente”, falou.

Enquanto finaliza as pinturas, o noivo se veste com uma canga feita de taboa, seu colar e um cocar da tribo Guarani. Todos os elementos representam a espiritualidade do jovem. A noiva chega ao local já pronta, vestida com trajes tradicionais Guarani, cujas pedras que compõem a saia ela quem escolheu, além de um cocar e braceletes.

Assim que a cerimônia começa, o noivo entra com sua tribo ao som de cantos sagrados tupinikim. Em seguida, a noiva faz o mesmo com a sua família, ao som de cantos ancestrais guarani mbyá. Duas pajés e anciãs abençoam o casal, cada uma em sua língua nativa.

O pai da noiva, o cacique, anuncia em português os votos de agradecimento e de desejo para que o casal fique sempre unido. Abençoados, os noivos se beijam e recebem seus colares de casamento, finalizando a cerimônia.

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