A serpente e a virtude
Em conhecida passagem do Evangelho, Jesus orientou Seus apóstolos a respeito da missão que teriam pela frente.
Ele afirmou que os enviava como ovelhas no meio de lobos.
Portanto, deveriam ser mansos como as pombas e prudentes como as serpentes.
Dessa narrativa, é possível extrair lições muito úteis.
Jesus exortou seus auxiliares mais diretos ao trabalho de evangelização.
Mas tratou de esclarecê-los quanto às dificuldades que encontrariam.
Em sua condição de homens bons e idealistas seriam como ovelhas no meio de lobos.
Essa significativa imagem persiste atual.
Ainda há muita maldade na Terra.
Os desonestos, os aproveitadores e os espertalhões continuam em grande número.
Embora o progresso verificado em dois mil anos, persiste como tarefa difícil viver com pureza e dignidade.
Daí, a cada dia, vale lembrar a lição de Jesus.
É preciso seguir em frente, viver e semear o bem.
Mas sem ser ingênuo e achar que o mundo é cor-de-rosa.
Constitui perigosa ilusão ver o bem onde não existe ou deixar de identificar o mal onde ele se encontra.
O cristão deve ser leal e generoso, mas não tolo.
Para dar cabo de sua tarefa, precisa ser manso como as pombas e prudente como as serpentes.
A mansidão é preciosa para evitar envolvimento com as correntes de ódio e intolerância.
A genuína bondade nunca se agasta, mesmo quando incompreendida e vilipendiada.
O idealista encontra a justificativa da vida em seu ideal, não no comportamento alheio.
Ainda que os resultados demorem ou pareçam não vir, ele segue em frente.
Contudo, não basta a mansidão.
Também é preciso usar de prudência.
Ou seja, ser prático e saber mensurar os meios de que dispõe para atingir os fins.
O ideal é importante para ter força em momentos difíceis.
Mas é inadiável perceber o mundo em que se vive.
Assim, o cristão é, ao mesmo tempo, doce e decidido.
Com doçura e energia, realiza sua tarefa no mundo.
Bondoso e idealista, mas também prático e lúcido.
Percebe as dificuldades dos que o rodeiam, mas ainda assim os estima e valoriza.
Por identificar as necessidades alheias, sem desprezar ninguém, é que pode ser sal da terra e luz do mundo.
Aliás, nesse sentido, a lição de Jesus é muito significativa.
Veja-se que o Mestre identificou virtude em uma serpente.
Trata-se de um animal habitualmente objeto de repulsa e medo e tomado por símbolo de coisas negativas.
Mas o Cristo utilizou uma característica sua e a realçou de forma positiva.
Em face de pessoas difíceis, convém agir assim.
Perceber suas virtudes e incentivá-las.
Gradualmente, o bem que se estimula e valoriza torna-se pujante, enquanto o mal perde a força.
Pense nisso.
Redação do Momento Espírita.
Disponível no livro Momento Espírita,
v. 10, ed. FEP.
Em 1º.2.2024