'Estava com os dedos da mão quebrados', diz mãe de jovem estuprada e morta na UFPI
'Me dói saber que ela teve que lutar até o fim': mãe de Janaina, estuprada e morta na UFPI, pede justiça após conclusão do inquérito e relembra último diálogo com a filhaNa noite do último dia 27 de janeiro, uma sexta-feira, quando a estudante Janaina da Silva Bezerra, de 21 anos, saiu para se divertir em uma festa de calouros na Universidade Federal do Piauí (UFPI), a jovem estava de bom humor e cheia de expectativas. Durante o dia, ela e a mãe, Maria do Socorro Nunes, de 53 anos, debatiam ideias sobre como expandir o pequeno negócio das duas de venda de bolos caseiros que, até ali, era o que garantia não apenas a ida e volta dela da faculdade, mas como o sustento da casa. A mãe lembra ainda que comentavam sobre a expectativa de a filha obter o sonhado diploma de Jornalismo, que seria mais um motivo de orgulho e inspiração para toda a família, que é muito humilde. Ela não fazia ideia de que estes seriam os últimos diálogos entre as duas.
Tudo mudou já no início da madrugada do dia 28, sábado, quando o caminho de Janaina cruzou o de Thiago Mayson da Silva Barbosa, de 28 anos, durante a festa. Nas dependências da instituição onde acreditava que realizaria um sonho, a estudante teve seu futuro roubado. Foi estuprada e brutalmente assassinada. O homem foi preso em flagrante pelo crime.
— Quando minha filha saiu de casa naquele dia, ela me disse: “Mãe, eu vou fazer um perfil no Instagram para a gente divulgar os nossos bolos de pote e ganhar mais clientes” — relembra ainda muito comovida a mãe, Maria, que faz questão de lembrar o quanto a filha era batalhadora e não media esforços para conseguir terminar a sua graduação, pois tinha como objetivo mudar sua vida e da da família através dos estudos.
Desde o dia da morte de Janaina, Maria não consegue esquecer de tudo o que, em suas palavras, se foi junto com a filha. "Sonhos e objetivos de uma família inteira foram enterrados com a estudante", definiu. A mãe relembra de quando a filha recebeu o resultado do vestibular. Ela pulava de alegria, "como criança", não conseguindo nem dormir naquela noite. Vinda de uma família muito humilde, em que os pais trabalham como autônomos e com mais duas irmãs, uma de 18 e outra de 15 anos, Janaina, para eles, representava a realização de algo quase impossível para a realidade em que viviam.
— A minha filha era linda. Eu mesma ficava impressionada o quanto ela tinha garra e força pelos objetivos dela. Saía cedo de casa e só voltava bem de noite, juntava o dinheirinho que conseguia através de alguns “bicos” e comprava livros. Quando entro no quarto e vejo eles lá, só consigo pensar em tudo que esse monstro tirou dela e de nós. Ela estava procurando estágio, ia comprando as roupas para as entrevistas para estar mais formal, era tudo com muito esforço — conta a mãe, que diz se lembrar claramente do dia em que a filha, com um sorriso no rosto lhe disse que ainda iria levá-la a uma viagem para qualquer destino do mundo que ela quisesse.